ACTAS  
 
8/28/2013
Jantar-Conferência com o Dr. Pedro Reis
 
Carlos Coelho

Caro Dr. Pedro Reis, começamos todos os jantares com um momento cultural protagonizado pelos grupos.

Trata-se da escolha de um poema e da sua leitura.

Teremos hoje as escolhas dos grupos Encarnado e Roxo.

O grupo Encarnado, através de André Rodrigues, lerá um poema de Augusto Lancer. O autor foi operário dos estaleiros de Hamburgo e durante a Segunda Guerra Mundial, no lançamento à água de um navio de guerra alemão, se recusou a fazer a saudação nazi, ao contrário de todos os seus companheiros. Esse simples acto custou-lhe a vida.

O grupo Encarnado traz-nos este poema porque ele se relaciona com aquilo que nos trouxe a todos aqui: a vontade de intervir, fazer parte da mudança e resistir à resignação.

Devemos ter sempre a capacidade de pensar por nós próprios, ainda que isso seja arriscado ou contra uma maioria.

O grupo Roxo, através da Patrícia Fernandes, vais ler "Chuva”, de Jorge Fernando. Escolheram este poema porque o fado é uma marca nacional e recentemente considerado Património Imaterial da Humanidade, pela UNESCO.

Escolheram por isso um fado de uma das embaixadores da candidatura.

Com a sua letra, densidade e significado, retrata algumas das memórias, dores e lutas do passado, a par da esperança por um futuro melhor.

Este fado permite-nos relembrar aqueles que não desejamos esquecer e por isso dedicam-no a Francisco Sá Carneiro.

Vamos ouvir os poemas.

[São lidos os poemas]

[APLAUSOS]

Após o jantar:

BRINDE

 
Marta Quintino Boura

Boa noite a todos.

O grupo Azul gostaria de dar as boas-vindas ao Dr. Pedro Reis. É um gestor de sucesso, reconhecido pelo excelente trabalho que tem realizado enquanto presidente da AICEP.

É também vogal do Conselho de Administração do Instituto Sá Carneiro, instituição que nos proporciona esta enriquecedora experiência.

A pedido do actual Primeiro-Ministro, o Dr. Pedro Reis publicou recentemente a obra "Voltar a Crescer”, em que traça um prognóstico da economia portuguesa.

É com grande entusiasmo que o recebemos nesta noite e, em nosso de todos, agradeço a sua presença.

Um brinde ao Dr. Pedro Reis.

[BRINDE E APLAUSOS]

 
Carlos Coelho

Meus senhores e minhas senhoras.

O nosso convidado deixou a sua marca indelével na capacidade de Portugal projectar a sua imagem nos mercados e de atrair investimento estrangeiro para o nosso país. Todos nós nos regozijámos com os números simpáticos da Economia portuguesa, designadamente da balança comercial e essa era uma questão que não podia passar ao lado desta Universidade. Analisamos aqui os problemas, queremos apontar soluções, ver o que funciona pior no nosso país, mas também perceber o que funciona bem, porque é que funciona bem e como é que pode funcionar melhor.

O nosso convidado de hoje disse logo que tem pouco tempo pessoal, que anda sempre com um pé num avião e um em terra, portanto o seuhobbypassou a ser o mesmo que a sua prioridade: passar tempo com a família. Em tempos normais, que para ele neste momento são escassos, acrescenta as viagens, as leituras, e longas caminhadas a pé. A comida preferida são quase todas, acrescentando ele que isso não ajuda no peso que devia perder. Os animais preferidos são o cão pela fidelidade, o cavalo pela elegância, o golfinho pela inteligência e o leão pela dignidade.

O livro que nos sugere e que tem a sua impressão digital é "Voltar a crescer”, os filmes são a "Lista de Schindler”, "Billy Elliot” e "Lawrence da Arábia”. A qualidade que mais aprecia é o carácter. Dr. Pedro Reis, muito obrigado por ter aceite o nosso convite e cabe-me o privilégio de lhe fazer a primeira pergunta que é muito simples e tem directamente a ver com a forma notável que tem desenvolvido a sua actividade em Portugal: Como é que interpreta a evolução da capacidade exportadora de Portugal? Vimos números que parecem muito simpáticos, quer números de aumento de exportações, quer números que numa análise da balança comercial e de aumento de exportações e de redução de importações permitem ver, desde há muitos anos, valores positivos pela primeira vez.

Agora, o que é que isto significa? Significa uma moda cultural, ou um pico que não é sustentável; significa que está tudo feito, ou que ainda é possível fazer melhor? O que é que podemos esperar da afirmação de Portugal lá fora e da atracção do investimento do estrangeiro para o nosso país?

Minhas senhoras e meus senhores, para responder à minha pergunta e às vosas perguntas, no segundo jantar-conferência na Universidade de Verão 2013 o Dr. Pedro Reis.

[APLAUSOS]

 
Pedro Reis

Meu querido amigo Carlos, muito obrigado pelo convite. Senhores deputados, meus caros amigos Hugo Duarte e Nuno, minhas queridas amigas e amigos, a minha primeira palavra é de facto de agradecimento por poder estar aqui, porque esta Universidade de Verão, vista de fora, é já um momento marcante no país e vista de dentro é claramente uma referência de como é possível construir um projecto de maneira sólida, justa e equilibrada. Isso é justamente também o que país mais precisa. Vocês todos têm um desafio pela frente, não é que são o futuro do país, pois isso diz-se a qualquer geração, mas têm o desafio e a Universidade de Verão aí é particularmente marcante de reconciliar os portugueses com a política, nomeadamente a gente nova com a política.

O pior que pode acontecer a um país é que haja um alheamento nas suas gerações futuras em que se deixe que se desligam das prioridades e da agenda do país, que se deixam de rever nas suas lideranças, no seu sistema e no seu regime. Acredito que é exactamente com iniciativas como estas da Universidade de Verão que isso é possível construir-se uma nova fase. Também não posso deixar de dar uma palavra muito rápido de homenagem ao Professor António Borges. Conheci-o há muitos anos quando estive no INSEAD. Tivemos longas conversas ao longo do tempo e foi de facto um homem com uma linearidade de carácter, com uma solidez de conhecimento e um brilhantismo de análise que eu como português e como amigo que fui sinto muito honra de o ter conhecido.

[APLAUSOS]

Entrando agora na questão que o Carlos Coelho colocou aproveito ao mesmo tempo para fazer uma análise rápida, sintética, leve, mas mais conceptual para responder à questão que me parece muito pertinente, nomeadamente num momento em que o país sente uma pressão mais depressiva que é afinal onde é que está o segredo e a chave da nossa Economia estar-se a portar tão bem nos mercados externos.

Estou à vontade para falar nisto porque o mérito é completo das nossas exportadores, dos nossos empresários, dos nossos empreendedores e muitos das vossas idades, porque são eles que arriscam, definem a estratégia, vão à luta, fizeram o ajustamento nas suas empresas muito antes de o próprio país e o próprio Estado o fazerem. Só por isso é que nós podemos hoje colocar nos seus ombros, porque o crescimento da Economia portuguesa neste momento, está de facto nas nossas exportadoras e no que conseguimos captar de investimento e colocar essa responsabilidade e ao mesmo ter esses resultados. como em tudo na vida é sempre possível ter duas visões das questões. Nos últimos anos, ouve-se muito a referência a que não temos caminho, que não sabemos onde estamos a ir e que será que isto tudo faz sentido, e essa visão é muito próxima de uma ao lado que diz que estamos no momento da verdade indiscutivelmente, numa hora muito exigente, obviamente, mas há um caminho, estreito mas que está a ser percorrido.

São justamente muitas das empresas que estão a exportar e que estão a investir e a ganhar mercados externos. Portanto, há que, por um lado, perceber o que elas estão a fazer e acima de tudo perceber como é que podemos ter mais dessas empresas e o que é podemos fazer para lhes facilitar a vida. Descodificaria este "enigma” das exportações com resultados positivos em quatro ou cinco aspectos e também com isso procurar desnatar e diluir a visão pessimista de, por exemplo quando o nosso saldo da balança externa se equilibra, dizermos que é por causa da crise, à conta das importações que caíram por causa da quebra do consumo privado, ou que logo que retomemos algum crescimento as importações vão voltar a cair e perde-se este trabalho todo.

Também se ouve que as exportações só são feitas à base de combustíveis, que não têm valor acrescentado nacional e outros tipos de questões. Não temos valor acrescentado nas nossas exportações? Há aqui uma série de mitos que é preciso dessacralizar, não porque precisamos, apesar de precisarmos de uma injecção de auto-confiança. E reparem que separo do termo do optimismo da auto-confiança, mas se as nossas empresas estão a ganhar quota de mercado nos mercados mais exigentes a nível mundial, se estão a conquistar novos mercados de altíssimo crescimento do seu PIB onde se encontram os mais agressivos concorrentes mundiais, não será certamente só porque estão a fugir à crise em Portugal, porque isso era um bilhete de ida e não uma conquista de entrada no mercado. É à conta do trabalho que têm feito de aposta na Inovação, na Investigação, no Marketing, na Engenharia de Produto, na estratégia comercial, na elaboração de parcerias, entre outros.

Portanto, a primeira chave para perceber o que se está a passar nas exportações portuguesas e na internacionalização e chamo a atenção que a internacionalização muitas vezes é mais difícil de agarrar nas estatísticas, pois são investimentos feitos no exterior e muitas vezes os próprios recursos e dividendos ficam no exterior dessas empresas, mas são a âncora para a saúde de Portugal e a primeira chave é precisamente a diversificação de mercados. Os portugueses perceberam a tempo o que se ia passar na Europa, o abrandamento europeu e a verdade é que no ano passado e lembro que o ano de 2011 tinha sido o ano recorde das nossas exportações, que em 2012 confrontaram-nos com problemas sérios de financiamento, de reformas, de abrandamento de mercado doméstico e falta de competitividade fiscal e a verdade é que mesmo assim as nossas empresas conseguiram ultrapassar os números de 2011 e para os mercados fora da Europa conseguiram crescer 20% ao ano.

Isto é absolutamente meritório e assinalável no trabalho que as empresas fizeram. O segundo aspecto que gostaria de chamar a atenção é que a base de exportação portuguesa está a aumentar e isso também é tremendamente importante. Muitas vezes olhamos só para os casos mediáticos que são os das grandes empresas. Ora bem, há toda uma panóplia de cadeias de valor de empresas dos mais variados sectores de PME que estão a vingar no mercado externo e que estão a ir por arrastamento pelas nossas grandes empresas. Como costumo dizer, estão a ir por valor, não por favor, ou seja, estão a provar que mesmo quando trabalham começam por trabalhar para multinacionais cá em Portugal, que são as melhores parceiros nesses mercados externos. Isso também é uma das chaves para perceber o que se passa nesta frente.

O terceiro aspecto é o andamento das reformas que estão a ser implementadas em Portugal e isto não é dito por nós. Aqui há uns meses tivemos a visita da Chanceler Merkel com uma série de grandes empresários alemães que me disseram que a Alemanha voltou a olhar para Portugal com particular atenção, porque Portugal recuperou competitividade. Muitas vezes colocamos o dilema de se a austeridade não está a condenar e hipotecar o crescimento, aí a verdadeira questão que se deve colocar é se a austeridade está a contribuir, nomeadamente no Estado, para aumentar a competitividade da Economia portuguesa. Porque é através do aumento da competitividade da Economia portuguesa que virá o crescimento e através do crescimento que virá o emprego. Esta equação não é inventada por nós, mas é uma verdade estatística mundial. Desenganem-se quem pensar que podemos voltar a um tempo em que sustentamos a nossa Economia em endividamento, em investimento e consumo públicos, ou em consumo privado quando este é apenas alicerçado em endividamento.

O crescimento da Economia portuguesa virá necessariamente do aumento das exportações, do aumento da internacionalização e da captação de investimento privado, nomeadamente de investimento externo. É isso que gerará o crescimento e este gerará a criação de emprego. Não há outra maneira de o fazer. Quando temos parceiros exigentes como é o caso destes alemães que olham para Portugal hoje com outra atenção já somos mais competitivos que a Europa do Leste e não tem nada a ver com salários baixos, tem a ver com produtividade, eficiência, eficácia e é isso que as empresas portuguesas têm que conquistar.

É por isso que podemos ter aqui uma avenida positiva de sustentabilidade no nosso crescimento.

O quarto aspecto é justamente o facto de as empresas terem percebido quais são os ingredientes para vingar no mercado externo. Para conquistar mercado externo as empresas portuguesas têm de perceber primeiro quais são os mercados onde querem actuar, quais são as suas estratégias de diferenciação, o que é que leva em termos de montagem de parcerias e de valor acrescentado que leva esse mercado e se têm capacidade financeira para os abordar. As empresas portuguesas, hoje, são altamente profissionalizadas nos mais variados sectores, é outra razão que explica um pouco este "enigma”. Não posso deixar de referir também, para explicitar um pouco, o contributo que foi dado de alinhamento da diplomacia económica nesta matéria.

A diplomacia económica é uma questão que foi importante e fizemo-la em tempo recorde de colocalização da AICEP e do Turismo de Portugal nas nossas embaixadas, ou de planos estratégicos por cada embaixada e por cada embaixador. Hoje em dia, cada embaixada sabe exactamente que objectivos têm que cumprir em cada mercado e eles são avaliados de acordo com esses objectivos. Mas depois todo um trabalho de fundo, além de um alinhamento da equipa de Portugal no exterior, é também trabalhado em termos de iniciativas como o Visto Gold que foi lançado pela AICEP, pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e pelo SEF, e que está a ser olhado com muita atenção por concorrentes como o de Espanha nomeadamente no mercado imobiliário português. A intervenção em casos concretos como o do esvaziar do problema que podia ter acontecido nas nossas exportações de vinho e azeite para o Brasil, ou dos produtos farmacêuticos que não eram devidamente homologados no Peru, ou o problema doanti-dumpingna China. Isso tudo foram casos de diplomacia económica no concreto e foram elementos decisivos para contribuir para esse esforço das nossas exportadoras.

Olhamos para a tal visão pessimista em que dizemos "a nossa Economia está arrasada, de onde há-de vir o crescimento, o que vai ser o meu emprego nos próximos anos, será que tenho horizontes no exterior?”, pois eu digo-vos porque as estatísticas dizem, porque a realidade o confirma, que há uma Economia pujante na frente externa e apanha todos os sectores. Os sectores tradicionais em Portugal que felizmente não seguiram as modas das nossas depressões, ou exaltações, e nunca acreditaram que estavam condenados, souberam reinventar-se e as nossas empresas além de afirmarem marcas próprias, hoje ganham quota de mercado junto de grandes clientes alemães, ingleses, americanos, franceses e por aí fora e estão a conquistá-los a empresas chinesas porque são muito mais flexíveis, focados, dão uma resposta muito mais pronta. Os grandes sectores da Economia portuguesa e que estão na origem das exportações têm vindo a consolidar as suas posições.

Têm um caso claro que exemplifica o que estou a dizer, que é o sucesso das privatizações. O que as empresas do mundo inteiro que pagaram prémios elevados sobre o valor de mercado das nossas empresas privatizadas fizeram-no porque acreditaram na competência da gestão das nossas empresas, na competência das nossas empresas nos respectivos sectores e no chamadogrowth storye na sua presença pelo mundo fora nomeadamente em África e na América Latina. Depois tem um terceiro grupo que está despontar na nossa realidade, que são aquelas empresas viradas para a chamada Nova Economia: a Nanotecnologia, a Biotecnologia e a Farmacêutica. Portugal pode tornar-se numhubde centros de serviços partilhados, multinacionais que se instalam em Portugal para cobrir Europa e África.

Mais uma vez, toda esta realidade que estou a descrever existe, está por detrás dos números e é essencial para nos fazer acreditar em nós próprios. Porque se nós não acreditarmos na nossa capacidade, por mais difícil que seja o momento, então não há nenhuma razão para os outros acreditarem em nós. Este tema da exportação está intimamente correlacionado com o do investimento. É verdade que não têm havido investimentos emblemáticos em Portugal, de grande dimensão, mas também é verdade que nós na AICEP, no ano passado, fechámos contratos no valor de 1.300 milhões de euros e que este ano já vamos com cerca de 800 milhões de euros. Estamos a trabalhar em possibilidades de outros investimentos de maior dimensão.

Qual é a marca d’água destes investimentos todos? É importante saber, pois temos de perceber o que é que procuram em Portugal. Hoje em dia, há-de haver investidores a pensar em Portugal e eles têm uma marca d’água muito clara. Primeiro, muitos deles são investimentos de expansão. Lá está, se quisermos olhar pela negativa podemos dizer que não estão a aparecer empresas novas em Portugal, o que não é verdade, mas se quisermos também olhar pela positiva vamos dizer que as empresas nacionais e multinacionais que melhor conhecem o nosso país, que melhor sabem o que se passa em Portugal estão comprometidas com o país ao ponto de reforçar o seu investimento. Isto é tremendamente importante, é o melhorendorsementque Portugal pode ter, são os investidores internacionais que estão cá estabelecidos.

A segunda marca d’água destes investimentos em Portugal é que cada vez mais têm valor acrescentado. Já deixámos de ser um entreposto, há um interesse e uma procura acelerada pela investigação portuguesa, pela engenheira portuguesa, pela gestão portuguesa, entre outros. O terceiro aspecto é que todos estes investimentos são vocacionados para o exterior. Temos um mercado doméstico reduzido e ainda por cima anémico, mas temos um mercado natural profundamente importante que é o mercado justamente, como quiserem ver, do Atlântico, da Lusofonia, da África e da América Latina. Dito isto, não tenham dúvidas nenhumas que não há sustentabilidade do comércio externo, das nossas exportações e da nossa internacionalização, se não olharmos para a nossa Economia nacional. Não se sustentam empresas, por melhor que esteja a correr no exterior, se a sua base de mercado doméstico estiver fragilizada. O que quer dizer que é chegou o momento de ver em profundidade o que é preciso fazer na nossa Economia para o Estado corresponder ao que as empresas já fizeram, o esforço que elas fizeram e reanimar e reavivar a Economia nacional.

Aí, para mim, há quatro eixos absolutamente fundamentais. Um, é olhar sustentadamente para a política de captação de investimento externo. O segundo tema é olhar para a realidade do financiamento das empresas. O terceiro aspecto é atacar determinada, violenta e urgentemente a burocracia. O quarto aspecto é o primeiro que é definir o posicionamento que queremos para o nosso país e para a nossa Economia, o que é que queremos que Portugal seja daqui a dez anos. Em relação ao investimento, deixem-me dizer dois ou três aspectos: não há investidor externo que não refira que é essencial competitividade fiscal, justiça económica célere e o tal combate à burocracia. Enquanto não diminuirmos estes desafios não estamos no campeonato principal.

Tem-se avançado muito e feito um esforço estrondoso mas ainda há muito por fazer e este é o momento de o fazer. A agenda chegou agora à Economia e é agora que se vai ver se o esforço que foi feito até agora fez sentido, porque o ajustamento financeiro do país, da dívida e do défice orçamental é um meio para atingir o crescimento económico. Isto é um meio de cilindrar estes problemas. Isso quer dizer que se tem de definir uma estratégia sectorial para a nossa política económica. Basta fazer perguntas como o que queremos do sector do Turismo, como é que se articula o sector do Turismo com o da Saúde, ou o que é que fazemos da nova lei do jogo para atrair investidores, ou o que queremos do sector da floresta, ou agroalimentar, ou automóvel, ou da Energia. Temos de ter uma visão muito clara, pois assim quererá dizer que está a tocar no âmago dos vários sectores. Isso quer dizer que então não tem de ter ciclos políticos, não tem de ter estados de alma e ideologias, mas sim pragmatismo e outro aspecto que falta muitas vezes em Portugal, a implementação. Somos o país dos diagnósticos e esta é a hora da execução.

O segundo aspecto é o financiamento. No financiamento das empresas têm sido dados passos importantes, mas é essencial definir-se por exemplo qual é o modelo do chamado fomento, como é que o vamos ter, em que forma, em que velocidade. Porque seja qual for o seu modelo, banco de fomento, agência de financiamento, um braço da CGD, o essencial é que se reforce a capacidade de financiamento a médio-longo prazo das nossas empresas. Também a nível do financiamento têm de se atalhar temas como os pagamentos do Estado. E boas medidas como por exemplo o tema do IVA de caixa porventura tem de se ter a coragem de ir mais longe e não suspendê-las para grupos de empresas com facturações até 500 mil euros.

Porque é que isso não pode ir mais longe e cruzar bem o instrumento da conta-corrente com o Estado? Também tratar do financiamento das empresas com ciclos longos de produção. Ou seja, mais uma vez aqui estou a tentar dar exemplos com casos concretos. Isto já não é o momento do Power Point, isto é o momento das medidas concretas que mexem com a Economia portuguesa.

O terceiro aspecto é o da burocracia; não o vou desenvolver muito, até porque quero cumprir o tempo. Porque é que continua a haver taxas que as empresas pagam de acordo com o valor do seu investimento, em vez de ser de acordo com o serviço prestado pelo Estado e pela Administração Pública? Porque é que continua a haver tanta deficiência ao nível do plano de ordenamento e tanto tempo para rever os PDM? Porque é que ainda não está feita a integração completa das plataformas comerciais e ambientais, para os empresários saberem exactamente com o que é que contam? Porque é que às vezes demoram tanto para fazer as transposições directivas europeias quando os nossos concorrentes o fazem mais rapidamente e nós não conseguimos entrar no mercado?

Todas estas questões têm respostas, ou soluções, claras identificadas e há que implementá-las, a meu ver com dois princípios básicos: primeiro, recorrer a aprovações tácitas, pôr o ónus da exigência sob o Estado e com prazos máximos. Ou seja, se as decisões não forem tomadas há uma aprovação tácita. É a partir daí, verão, que a máquina responderá muito mais rápido senão quiser ser responsabilizada por essas decisões. Gosto sempre de citar o caso inglês do Beta Reformation Act, em que no fundo cada medida que é apresentada pelo Governo inglês primeiro tem de quantificar o custo dela, segundo tem de quantificar o impacto que tem para a Economia, terceiro, tem de recomendar duas ou três leis que têm de retirar por cada uma que entra, para simplificar. Estamos sempre a falar da mesma matéria. Nesse aspecto, gosto muito e estou muito esperançada de ver por exemplo esta iniciativa pública pela qual lutei muito e inclusivamente falei muitas vezes com o Professor António Borges, de haver reuniões de Secretários de Estado a trabalharem sobre ospipelinesde investimento que existem e que estão em suspenso em Portugal.

A AICEP tem e sabemos exactamente quais são as decisões de investimento que estão à espera das decisões públicas. Se tiverem de chamar à responsabilidade - gosto muito do termo inglês, peço desculpa pelos anglicanismos, mas accountability - e fazer responder o Governo por cada uma das situações, porque já não podemos ter mais projectos, como alguns que resolvi no meu mandato da AICEP, que estiveram 20 anos à espera. É que há duas perguntas essenciais a fazer: porquê tanto tempo e, já agora, como é que eles aguentaram este tempo todo. Portanto, isto é uma agenda em que é preciso virar a página. Mais, a reforma do Estado tem muito a ver com isto. Os princípios básicos devem ser para tornar Portugal um país amigo do investimento, facilitar a vida, pois isso não tem nada que ver com Troika, limites de endividamento, ou com escassez de financiamento, tem única e exclusivamente a ver com vontade nossa.

O último ponto só para referir e termino, tem que ver com o posicionamento. Em Portugal, mais uma vez, temos de nos entender em relação ao modelo de Economia que queremos. Vamos sustentar o crescimento da nossa Economia e o nossoimprimaturem que sectores? Não se pode querer tudo nem ser bom em tudo. É só com base nisso, que depois pode levar para o exterior justamente essa narrativa, fazerroadshowse captar investimento. Foi por isso também que fizemos osdossiers, pode ser que a seguir tenha tempo de investimento na AICEP e que agora estão a ser trabalhados com o Ministério da Economia.

Falta-nos fazer o mais difícil, que é o essencial, que é uma mudança de mentalidades e de atitude. É isso que os investidores esperam de nós e não por acaso se fala tanto em instabilidade do país e em procura de consensos. Não são jogadas políticas, são condições essenciais para dar aos investidores e aos portugueses previsibilidade, estabilidade e confiança no futuro. Se nos conseguirmos focar no essencial e como costumo dizer "entendermos sobre o mínimo para conseguirmos o máximo”, certamente e acredito que sim, conseguiremos virar esta página mais difícil e construir um país e uma Economia mais sólida.

Muito obrigado.

[APLAUSOS]

 
Carlos Coelho
Muito obrigado, Dr. Pedro Reis. Vamos dar início ao primeiro bloco de perguntas com os grupos Azul e Roxo, dou a palavra a Hélder Antunes e Ricardo Nora.
 
Helder Antunes

Muito boa noite. Antes de mais, quero agradecer a presença do Dr. Pedro Reis na nossa universidade e pelo retrato que nos fez das exportações e do comércio internacional no nosso país. Quero também aproveitar para felicitar na pessoa do Dr. Pedro Reis todo o trabalho da AICEP e da sua equipa no processo de internacionalização da nossa Economia e na diplomacia económica que foi uma aposta ganha deste Governo.

Em segundo lugar e como a terminar falou do posicionamento de Portugal e na mudança de mentalidades, queria também aproveitar para felicitar o Dr. Carlos Coelho que ao longo destas últimas edições tem sido o grande impulsionador da reforma estrutural necessária no país que é a reforma de mentalidades.

[APLAUSOS]

Voltando então à parte das exportações referiu que estas se devem ao sucesso dos empresários, o que é um facto, mas também temos de olhar com ar crítico para a situação económica de Portugal em que grande parte da Economia portuguesa está assente no sector dos Serviços e o tecido empresarial português é composto por PME. Grande parte delas ainda não está orientada para a exportação. Nesse sentido, coloco concretamente as minhas questões também para não me alongar mais. Quais é que são as medidas necessárias, ou como é que podemos orientar as nossas PME para a produção de bens transaccionáveis, para internacionalização e exportação? Qual o papel que os novos fundos comunitários que estão a ser negociados poderão ter? Como é que isso poderá ser articulado sem que as empresas continuem ou se tornem subsídio-dependentes?

Muito obrigado.

 
Ricardo Nora

Muito boa noite a todos. Caríssimo Dr. Pedro Reis, desde já em nome do grupo Roxo permita-me que o congratule, que o felicite e agradeça por não deixar de marcar presença nesta célebre universidade. A minha pergunta é simples e muito pertinente: há pouco o Dr. Pedro Reis achou melhor não desenvolver o assunto da burocracia. Agora questiono-o no que se poderia fazer para se promover um maior volume de exportações pelas PME, visto que as burocracias adjacentes têm funcionado como um obstáculo em vez de uma facilitação.

Obrigado.

 
Pedro Reis

Muito obrigado pelas perguntas. Deixem-me primeiro dar a nota de agradecimento sobre os comentários que têm sido feitos em relação ao trabalho na AICEP. Também aqui gostaria de deixar o testemunho de alguém que fez a sua vida no sector privado e que veio a encontrar na Administração Pública gente de altíssima qualidade, técnicos surpreendentemente bem preparados, ao melhor nível do sector privado e trabalhando em condições muitas vezes difíceis, com uma noção de sentido de Estado e de sentido cívico e entrega ao país, onde vão buscar a sua motivação nesses momentos mais difíceis. Portanto, é bem justo fazer esta referência neste momento.

Em relação à primeira pergunta, deixe-me só fazer uma precisão de que o sector dos Serviços é tremendamente importante e apanha muitas PME. É tremendamente importante já não só na Economia portuguesa como nas exportações, pois 30% delas são Serviços e mais, são Serviços que muitas vezes estão a arrastar outra frente de batalha como a parte industrial. No sentido em que basta perceber que muitas empresas de consultoria, de formação e até competências públicas que são perfeitamente exportáveis: o nossoknow-howna gestão da Saúde e da Educação pode ser levado a muitas partes do Mundo, seja por empresas públicas, seja por privadas. E esse efeito já está a acontece e são competências que são claramente identificadas pelos mercados externos como interessantes, não só para mudarem o seu patamar de desenvolvimento como para arrastarem outras empresas.

Relativamente à questão sobre o que é que é possível fazer pelas PME e tem muito a ver com a segunda questão também, penso que tem havido uma evolução notável das PME portuguesas. Devo dizer que das 22 mil exportadoras em Portugal, cerca de 18 mil ou 19 mil são PME. Das cerca de 8 mil empresas que todos os anos estão a começar a trabalhar com a AICEP, 90% delas são PME. Das cerca de 60 empresas que vêm porventura a acompanhar as missões externas que temos visto ao longo destes dois anos intensamente são PME. As PME portuguesas fizeram também ummind shift, ou seja, hoje perceberam que o seu grandeóbicepode ser precisamente a dimensão e estão a funcionar nas tais parcerias internas e externas. E temos casos espantosos disso: no sector da Saúde, o Health Cluster; no sector das Tecnologias da Educação e do Conhecimento, a Example; no sector agroalimentar a Portugal Foods; entre outros.

É que as empresas perceberam que se se juntarem fogem à disputa mais básica do preço, encontram uma solução diferenciadora e conseguem ser complementares. O que é preciso fazer pelas PME portuguesas é o que estive a referir na primeira parte da minha intervenção: atacar a justiça económica para que ela tenha mais celeridade, tratar da competitividade fiscal, tratar do financiamento, tratar dos seguros de crédito e tratar da homologação dos produtos. Há também outro aspecto e este é dos tais momentos, estas "horas da verdade”, em que todos nós devemos assumir as nossas responsabilidades.

Também sabemos que muitos problemas das PME não tiveram só a ver com a crise externa ou com a crise interna, houve aqui um excesso de financiamento e não tenho nenhuma dúvida que uma das soluções para as PME ganharem sustentabilidade no seu modelo de negócio - pois muitas vezes têm um bom modelo económico mas têm um mau modelo financeiro -, é capitalizarem-se. E vejo com muito agrado iniciativas como por exemplo o tema destes Fundos Revitalizar e PME Exportações, entre outros.

Também não tenho dúvidas nenhumas que é determinante o que vier a acontecer, por exemplo, a nível da reforma do IRC. Esta tem três eixos que a meu ver são fundamentais responder. O primeiro eixo, obviamente, é a redução da taxa real de IRC, o segundo é a simplificação fiscal. Se calhar 80% dos casos de conflitos entre as PME e a Administração Fiscal tem a ver com interpretação de 20 ou 30 articulados.

Por isso, lá está, se actuarmos cirurgicamente temos um valor acrescentado brutal para as nossas PME e para a nossa Economia. Mas também há aspectos que temos olhar de frente e resolver. O problema de endividamento é geral em Portugal e os seus custos financeiros contribuem para a redução de matéria colectável, ou seja, quem tem endividamento paga menos impostos.

Se as empresas puserem dinheiro, não através de endividamento mas através de capital, não têm nenhum benefício fiscal. Isto não faz sentido. Alguma coisa aqui não está alinhada entre os objectivos e os instrumentos que estamos a utilizar. Portanto, são estes aspectos muito práticos que têm de ser claramente atalhados. Por outro lado, ainda faltam no Estado - a meu ver - interlocutores claros para as empresas e é preciso ver que as PME não têm um exército de advogados por trás, nem de consultores, nem de serviços de apoio. Por isso, tem de ser o Estado de uma maneira muito clara a fazer ocoachingdessas empresas para elas saberem a quem se devem dirigir em cada caso.

As PME portuguesas, acima de tudo, o que nos dizem é que querem que o Estado não atrapalhe e isto é justamente atalhar rápida e violentamente todos estes custos ocultos da nossa Economia que só aumentam, reduzem a competitividade fiscal e aumentam os custos económicos das próprias empresas.

[APLAUSOS]

 
Carlos Coelho
Segunda ronda de perguntas: grupos Laranja e Castanho com a Ana Beatriz Seco e Beatriz Branco.
 
Ana Beatriz Sêco

Boa noite a todos. Em nome do grupo Laranja queria saudar o Dr. Pedro Reis pela honra da sua presença neste jantar-conferência.

Dr. Pedro Reis, como sabe, o Interior do nosso país está a ficar cada vez mais desertificado. A nós, jovens, principalmente aqueles que residem no Interior assusta-nos. Temos um Interior tão rico e tão especial que não está a ser devidamente aproveitado. Queríamos então saber quais as estratégias que se deviam adoptar para que cada vez mais existam negócios rentáveis para a Economia no Interior do país.

 
Beatriz Branco

Boa noite, Dr. Pedro Reis, já o ouvi falar uma vez em Óbidos na primeira edição da Academia de Inverno da JSD de Leiria e naquela edição foi a pessoa que eu mais gostei de ouvir falar porque talvez fosse o único que não foi para lá com um discurso político e foi para lá com um discurso daquilo que gosta de fazer, que é apaixonado e ao falar isso vê-se; e com um discurso técnico e interessante para todos.

A nossa pergunta é muito simples: falou que temos de decidir qual a Economia que queremos para o nosso país; na sua visão, qual é que sugeria?

 
Pedro Reis

Muito obrigado. Em relação à primeira pergunta e aproveito até para pegar num tema que passou há pouco, dosdossiersde investimento e dos argumentos para investir em Portugal. Vou falar um pouco também no sentido daquilo que me parece que devem ser as prioridades do novo QREN e dos novos fundos comunitários. Indo um pouco contra a corrente em que se defende muito que se deve concentrar cada vez mais em PME esses apoios, concordo um pouco com a corrente actual que diz que se deve concentrar os apoios mais em empresas.

Portugal deve ter particular cuidado em equilibrar os fundos das PME com os das grandes empresas, porque muitos dos investimentos de grandes empresas feitos no passado se não tivessem apoios comunitários provavelmente não tinham vindo para Portugal. Porque se retirarem esses incentivos então qual é a razão e como é que colmatamos a diferença logística e obviamente económico-financeira de uma empresa se instalar no centro da Europa, nomeadamente se estiver vocacionada para o mercado europeu, ou vir instalar-se em Portugal?

Portanto, não devemos entrar em demagogias e devemos olhar com cuidado para estes temas. Também não tenho dúvidas nenhumas que os critérios de aplicação da QREN e que respondem ao próprio equilíbrio regional têm a ver com a capacidade das empresas de se internacionalizarem e criarem emprego. Estes são os dois critérios que a meu ver são chaves nesta questão, porque se forem a ver bem não há nenhuma razão para termos na nossa Economia um país inclinado para o Litoral e macrocéfalo em Lisboa. Não faz sentido e enquanto não tivermos uma Economia e um país equilibrados não temos Economia.

Senão vejam, os argumentos para vir investimento externo quais são? Qualidade das nossas infraestruturas; é diferente em Lisboa do resto do país? Não. Qualidade dos nossos recursos humanos. Temos melhor gente em Lisboa do que no resto do país? Não. Qualidade de fornecedores onde as empresas se instalam e necessitam de fornecedores na sua cadeia de valor. Temos mais dessas empresas em Lisboa do que no resto do país? Não. Programa de pacote de benefícios financeiros e fiscais, temos melhor em Lisboa do que no resto do país? Não, ao contrário, temos mais para fora de Lisboa. Portanto, algo se passa, porque não faz sentido que ainda tenhamos desequilíbrios de ordem regional. A nossa grande força é exactamente essa: integração, essa sim deve ser reforçada e implementada ao nível sectorial.

Ou seja, a proximidade a polos de conhecimento, a parceiros e fornecedores, a portos de saída, esses são factores discriminatórios pela positiva. O resto não faz qualquer sentido. Não tenho dúvidas nenhumas que isso irá tornar-se cada vez mais claro à medida que o investimento for entrando em Portugal e de uma forma com maior capilaridade. Mais uma vez, deixem-me ir de novo à minha nota sobre a bandeira que vos queria trazer, pois acho que é importante no país e nessas frentes todas, que é deaccountability.

Também não é só dizer que têm de trazer investimento para o Interior. Tenho dito a uma série de presidentes de câmaras os quais devo dizer que estão completamente virados para a captação de investimento, para a criação de emprego, para facilitar a vida ao investidor, para ir ao leilão do investimento, mas era importante que cada autarquia de cada região construísse umdossierde investimento sério e profissional em que identifica os activos, as infraestruturas, os espaços disponíveis, as indústrias e serviços que estão em cada região. Identifica também osfringe benefitsque são dados aos estrangeiros, para que escolas vão, para que universidades vão, qual é a vida cultural, pois isto muitas vezes pode fazer a diferença.

Em relação à segunda pergunta, quanto à primeira nota agradeço os comentários e realmente acredito e não gosto daquelas pessoas que dizem que estamos nisto por favor, que é sacrifício enorme estar a fazer as funções que se está a fazer. Há sacrifícios pessoais, sacrifícios mediatizáveis e financeiros, mas acredito que estes lugares fazem justamente com paixão e acho que é uma hipocrisia quem diz que está aqui forçado. Não, eu sinto-me muito honrado pelo convite que o senhor Primeiro-Ministro me fez já há dois anos, pois este é o momento de eu servir o meu país e exactamente na hora mais difícil, que é o momento em que podemos contribuir para preparar e construir o resgatar o futuro para os nossos filhos.

A sua pergunta sobre qual é a Economia que eu vejo, podíamos estar aqui uma ou duas horas a falar. Primeiro, vejo uma Economia - como já disse - em que seja muito fácil de investir em Portugal. A Suíça é vista pelos serviços financeiros, o Brasil pode ser visto pelo Turismo, os Estados Unidos pelas Novas Tecnologias, nós devíamos ser vistos como um país onde é fácil investir pois isso marcaria a diferença transversalmente para os vários sectores. Depois, não tenho dúvidas nenhumas de que há sectores emblemáticos em que podemos "dar cartas”.

Referi há pouco alguns. O sector do Turismo é um em que somos diferenciadores e notam-se nos números deste ano que estamos a beneficiar das complicações que têm havido no Norte de África. Podemos ter uma oferta muito mais integradora: o turismo da saúde, o turismo religioso, o turismo da natureza, entre outros. Quando andam à procura de investimentos em Espanha na área do jogo, porque é que Portugal não há-de ser essa plataforma já tendo Macau no Oriente e Las Vegas nos Estados Unidos? Isso ramifica muito para outras actividades. Como podíamos ser umhubpara fundos financeiros, em Portugal, se soubermos ter competitividade fiscal. Inclusivamente estou a trabalhar e conto apresentar uma proposta ao Governo nessa matéria.

Mesmo com a crise da Grécia toda a área de animadores gregos fugiram da Grécia, por isso Portugal devia-se posicionar para absorver isto. Já para não entrar nos casos clássicos da Economia do Mar e da Floresta e esta época é particularmente crítica nessa matéria. Do que é que nós estamos à espera para permitir que o Estado negoceie com fundos assegurando rendimento às pessoas para utilizar as terras para plantio e para aumentar a intensidade dos sobreiros de modo a aumentar as exportações de cortiça? Às vezes, em muitos destes factores, já para não falar do tema da Engenharia em que acredito que na sua globalidade temos a melhor do mundo e é essa Engenharia que também está por detrás do sector automóvel e sector aeronáutico.

Não há país onde eu vá em que não me perguntem, entre outros casos, como é que em Portugal se fez a construção das energias e particularmente o sector das energias renováveis em tão pouco tempo e querem aprender com o nosso caso. Acima de tudo acho que é preciso identificar sete ou oito factores em que Portugal queira apostar determinadamente. Não é que esteja a advogar um dirigismo da Economia, antes pelo contrário, logo eu, mas que temos de nos entender e ser sérios e realistas que os recursos são escassos e que uma estratégia não acomoda dar tiros para o ar em todas as direcções, isso é claríssimo.

Termino com o exemplo de quando fui à Finlândia acompanhar o senhor Presidente da República há cerca de um ano, e a sua pergunta eu faço nos outros países para eu entender o racional desses países: a Economia finlandesa, ou angolana, ou chinesa, caracterizam-se por que sectores? Nós não sabemos responder, o que é logo um indicador. Os finlandeses disseram que apostaram em dois sectores há 40 anos, florestal e novas tecnologias e sobre isso são uma economia vencedora.

Portanto, penso que é uma pergunta pertinente e que já vai sendo hora de dizermos claramente o que queremos de cada um desses sectores.


 
Carlos Coelho
Terceiro bloco de perguntas: grupos Verde e Cinzento, dou a palavra a Nuno Mendes e a Susana Coito.
 
Nuno Mendes

Boa noite. Começo por saudar o Dr. Pedro Reis, em nome do grupo Verde e congratulá-lo pela excelente exposição no âmbito das exportações e das importações, tão importante no panorama actual económico português.

Estivemos a pesquisar e olhando para os dados divulgados pela AICEP sobre as exportações durante o ano de 2012 de Janeiro a Dezembro verificamos que o sector mais exportador trata-se nada mais, nada menos, do que o sector de Viagens e Turismo.

Se pensarmos no investimento realizado em Portugal nos últimos 20 anos em Educação e desenvolvimento tecnológico, como é que é possível ser este o sector mais importante de exportações, será que estamos destinados a ser a grande praia da Europa?

[APLAUSOS]

 
Susana Coito

Boa noite, Dr. Pedro Reis, queria agradecer-lhe antes de mais, em nome do grupo Cinzento, a sua presença aqui e também as suas palavras. É sempre bom termos um empreendedor junto de nós e uma pessoa com uma visão diferente.

Há pouco falou-nos muito ao de leve sobre austeridade, passou apenas por aí, mas a minha questão prende-se exactamente com isto. Como um grande gestor já premiado, como vê a carga fiscal incidente sobre as empresas em Portugal? No sentido em que: será que não estamos a impedir as nossas empresas de crescer com tamanha incidência de impostos?

[APLAUSOS]

 
Pedro Reis

Muito bem. Em relação à primeira pergunta: não tem nada de mau sermos a praia da Europa ou do Mundo, desde que sejamos mais coisas além disso. Não devemos deitar fora os nossos efeitos diferenciadores, temos é de acrescentar outras mais-valias. Devo dizer que se for ver obreak-updas exportações vai ver que elas estão muito equilibradas: viagens e turismo, ou seja, os quatro grandes grupos de máquinas, equipamentos, veículos, mas depois logo a seguir aparecem os agrícolas, os plásticos, os alimentares e os farmacêuticos.

A indústria farmacêutica, por exemplo, que há poucos anos quase não exportava, hoje, aproxima-se de mil milhões de euros em exportações, é um sector vigoroso, mas muitas vezes não é visível. A investigação e desenvolvimento não é só um património da indústria, mas também dos serviços, no sentido da inovação, da aposta na qualidade e embreakthroughsem produtos e serviços que são oferecidos. O que vejo nesta decomposição da nossa exportação é que acho positivo que não estejamos só dependentes ou de um mercado, ou de um sector, e felizmente a dependência que temos não é tanto sectorial mas mais geográfica.

Tendo nós 70% das nossas exportações a ir para a Europa e cerca de 23% a ir para a Espanha estes mercados, nomeadamente o espanhol, estão a portar-se muito bem este ano, ou seja, estamos com um aumento das exportações em Espanha. Resumindo, refiro o que disse na minha apresentação inicial: as nossas exportações estão bastante equilibradas em termos de sectores, todos eles têm evoluído, mas essas evoluções têm de se procurar dentro dos próprios sectores que têm ganho quota de mercado externo nesse esforço de exportação e que cada vez mais têm valor acrescentado e inovação incorporados.

Costumo muito dizer que olhamos muitas vezes para o rácio de exportação sob o PIB e a meu ver é importante olhar não só para a exportação mas toda a fileira de empresas que trabalham para as exportadoras e não aparecem muitas vezes nos números das exportações. Mais que olhar para o PIB temos de olhar para o nosso valor acrescentado nacional que é isso que de facto fica cá em Portugal.

Já agora, referi há pouco osdossiersde investimento que a AICEP preparou e o que fizemos foi justamente identificar em treze sectores qual é a realidade de cada um deles em Portugal, onde é que estão as oportunidades e as lacunas nas cadeias de valor que se podem instalar. Alguém em Portugal que tem o mercado assegurado, ou activos para venda como o caso do Turismo e a área das Minas, quais são os principaisplayersem cada um destes sectores e quais são os custos de contexto. É com base nisso que podemos trabalhar no aumento das exportações caso a caso e do investimento que o irá alimentar.

Em relação ao tema da austeridade, aqui também quero procurar ser frontal. Tínhamos chegado ao fim da linha, a nossa realidade não era sustentável, ficámos quase sem dinheiro, já ninguém nos emprestava mais e era impossível alongar mais o modelo que estávamos a seguir. As reformas estruturais não são feitas porque a Troika nos impõe, mas sim porque o país como estava não ia a lado nenhum. Como não iria um empresa, ou uma família, que baseasse todo o seu crescimento em endividamento. Mais, obviamente também não fujo à questão, é claro que temos uma carga fiscal elevada, mas se quisermos reduzi-la temos de fazer o trabalho de casa que é dizer: primeiro, recuperar a nossa soberania, pois não podemos decidir simplesmente baixar os impostos e as pessoas às vezes esquecem-se disso. Temos um memorando a cumprir, uma conta a pagar.

Segundo: precisamos de começar por reformar e enxugar o Estado se quisermos que este precise de menos impostos para viver. Portanto, quando se está, muitas vezes, a separar as realidades dizendo que os sacrifícios que estão a ser pedidos eram escusados, ou quando se diz que temos de baixar os impostos para aumentar a dinâmica empresarial e o consumo, isso é verdade, temos todos os mesmos objectivos, mas a questão é como é que se chega lá na prática. Ou seja, só é possível abdicar de receita, o que é essencial para aumentar a competitividade das empresas e o investimento e o consumo, se reduzirmos despesa.

As contas têm de fechar e essa é a questão que está em cima da mesa e que felizmente estamos a resolver. Curiosamente, encontro um reconhecimento do esforço que Portugal está a fazer, a nível internacional que às vezes não se vê em Portugal. Eu percebo, obviamente, o nível do sacrifício, o drama do desemprego, seria desumano não perceber, mas é preciso entender que estes sacrifícios vêm da situação que foi criada, dos excessos que foram cometidos e até hoje não vi nenhum caminho alternativo. Não é a questão do crescimento e do emprego, pois estamos todos de acordo nessa matéria, mas é como é que se chega lá sabendo que estamos constrangidos pelos compromissos assumidos pelo país com a Troika e sabendo que ainda temos um Estado pesado demais para abdicar de receita.

Portanto, o que está a ser feito - a meu ver - tinha de ser feito. No que me cabe em termos de lidar com os investidores externos está a ser muitíssimo bem feito, porque este é o caminho da sustentabilidade.

Obrigado.

[APLAUSOS]

 
Carlos Coelho
Quarto bloco: grupos Bege e Rosa, dou a palavra a Henrique Pessoa e a Vítor Gaspar.
 
Henrique Pessoa

Em nome da equipa Bege, cumprimentos ao Dr. Pedro Reis. Portugal atravessa um período de crise em que muitas empresas sentem necessidade de se internacionalizarem para manterem a sua estratégia de crescimento. Algumas empresas escolheram os mercados emergentes, África ou China, como destino das suas exportações. Empresas portuguesas como a Hiperfrio optaram por comprar indústrias ligadas à sua área de actuação na Colômbia e a Vista Alegre também entrou nesse mercado, em todos esses exemplos as empresas encontraram espaço para se integrarem nesses países.

Em que medida é que as entradas por parte das empresas portuguesas nesses países foram fáceis e rápidas, onde existem diferenças significativas como a Cultura, entre outros factores, à aprendizagem?

 
Vítor Gaspar

Boa noite a todos, em particular ao Dr. Pedro Reis, a quem agradeço a presença e os esclarecimentos. Estão a ser iniciadas conversações sobre a liberalização de mercados entre os Estados Unidos e a Europa. Além do factor político a uniformização e a certificação serão um desafio.

Gostaria de o questionar quanto às suas expectativas, se e quando irá acontecer a liberalização e as oportunidades e desafios para as empresas portuguesas neste cenário.

Obrigado.

[APLAUSOS]

 
Pedro Reis

Muito obrigado. Em relação à primeira pergunta, muitas vezes me questionam sobre qual é a receita para uma internacionalização de sucesso e como é que têm corrido os casos portugueses. Costumo dizer que não há uma receita, cada caso é um caso: há PMEs que avançaram isoladamente e outras que foram por arrastamento de grande empresas, há empresas que têm operações de aquisições de mercado externo mas aí identifico alguns ingredientes que são comuns a quase todos os casos de sucesso de internacionalização.

O primeiro - e é isso que as empresas portuguesas têm feito -, é que fazem umresearche levantam informação sobre os mercados muito cautelar e profissionalmente previamente, isso é absolutamente essencial. O segundo aspecto é terem a tal estratégia de diferenciação. Muitas vezes, nomeadamente em tempos de crise no mercado interno a pessoa pensa no que é que precisa de vender lá fora, mas a questão é ao contrário: o que é que lá fora querem comprar?

E no investimento isso também é válido. Amanhã, daqui a umas horas, sigo para Moçambique onde o exemplo é extremamente revigorante para a Economia portuguesa e ali o importante é perceber por onde é que passa o plano de desenvolvimento de Moçambique. Aí é que as empresas portuguesas se devem encaixar. Portanto, esse é um exercício essencial.

O terceiro aspecto fundamental que as empresas portuguesas têm feito é a prioritização de mercados. Ou seja, não devem ir a todos e devem perceber bem quais os que têm valor acrescentado a fazer. O quarto aspecto e ingrediente é que as empresas que têm vingado - a meu ver - têm-se focado no seucore business, ou seja, há uma enorme tentação de dispersão quando se vai para o estrangeiro para os mercados externos e as empresas portuguesas têm sido resilientes em perceber bem em que é que são boas, diferentes e melhores.

Para além das parcerias, há dois aspectos que são essenciais: a qualidade de gestão, ou seja, terem quadros para se internacionalizarem e o segundo aspecto é que a internacionalização demora sempre muito mais tempo do que se imagina. Portanto, em sequência disso tem de se ter muito cuidado com o capital e com o fundo de maneio que se tem agregado. Isto é para responder a quais são os mínimos que as empresas portuguesas têm feito para entrar nesses mercados. A razão que vejo pela qual têm sido bem-sucedidas nos mais variados mercados é justamente esta.

Depois, quando isto está garantido - portanto é condição suficiente mas não necessária -, aí é que entra a diferença que os portugueses fazem e que é o nosso grande património, justamente a nossa capacidade empática, o nosso emocional, a química que sabemos construir com os outros países. E o mundo dos negócios que é frio, racional - não sejamos ingénuos -, mas não há nenhuma esfera, seja política, social, empresarial, económica, académica, o que quiserem, em que a capacidade de chegar ao outro, de entender o outro e de se aproximar do outro, não faça diferença. Aí somos excelentes, o que quer dizer que, pulando o resto da intervenção, se nós soubermos tratar do resto ficamos com os nossos factores positivos que podem fazer realmente a diferença, senão são só a compensar outros aspectos essenciais.

Relativamente à segunda pergunta, devo dizer que mal saíram notícias sobre esta intenção entre um acordo entre a União Europeia e os Estados Unidos pedi na AICEP, justamente, para se contactarem todas as nossas empresas que exportam para os Estados Unidos para que se pronunciassem sobre quais são os temas importantes que querem ver defendidos, ou que querem ver colocados em cima da mesa. Como sabem, em diplomacia há essa agenda dupla: os temas ofensivos e os defensivos, que devemos preparar.

Mais uma vez, gosto pouco de perder os pés do chão, ou procuro não os perder; acho que é um acordo que pode demorar algum tempo, não é um acordo para meses, mas sim para ser construído em um ou dois anos, já será um excelente prazo. Há indicações de estudos macroeconómicos que apontam que isso pode ter um efeito de até 1% a 2% nesta Economia conjunta dos Estados Unidos e da Europa. Acredito que vai ser uma oportunidade muito importante para as empresas portuguesas.

Ou seja, ou abrir-se, ou ao casar-se mais proximamente o mercado americano com o europeu há um efeito que vai ter natural que é o de haver simbiose e articulação de parcerias dentro de empresas para irem a mercados terceiros. Portugal deixou de estar na cauda da Europa para estarmos numa nova centralidade económica e esse aspecto acho que vai ser bastante visível à medida que este acordo que penso que vá ser carregado de sucesso, entre os Estados Unidos e a Europa, se for construindo.

Obrigada.

 
Carlos Coelho

Dr. Pedro Reis, temos uma tradição na Universidade de Verão que é de dar a última palavra ao nosso convidado, por razões de cortesia, portanto esta é a altura que tenho para lhe agradecer o facto de com sacrifício pessoal, porque amanhã de madrugada sai de Lisboa para Moçambique e hoje ainda regressará de Castelo de Vide a Lisboa e mesmo assim não ter deixado de aceder ao nosso convite e ter marcado presença na nossa Universidade de Verão.

Quero agradecer-lhe as respostas que já nos deu e as duas últimas respostas que se seguirão à última ronda de perguntas. Antes de se passar isso, pedia aos conselheiros e aos senhores adjuntos para termos uma breve reunião logo a seguir ao termo do jantar. Vamos para a última ronda de perguntas ao nosso convidado, Dr. Pedro Reis, com os grupos Encarnado e Amarelo.

Aproveito para agradecer ao grupo Amarelo o facto de nos terem recebido na vossa mesa e o convívio simpático que tivemos durante a noite aqui convosco e darei a palavra ao Jorge Ribeiro e ao José Miguel Rebolho.

[APLAUSOS]

 
Jorge Ribeiro

Boa noite a todos, em nome do grupo Encarnado quero cumprimentar o Dr. Pedro Reis e agradecer a sua presença aqui hoje.

A minha questão vai para a exportação: apesar de todos os produtos que Portugal exporta em vários sectores como o vestuário e o vinho, foco aqui o vinho porque um colega meu esteve há pouco tempo na Irlanda numa loja que vende vinhos de todo o mundo e Portugal não estava lá, não estava nenhum vinho português nessa loja.

Na minha opinião, não sabemos vender a nossa imagem. Se eu estiver errado peço que me corrija e peço desculpa por isso. De um país exportador, gostaria de perguntar como é que podemos divulgar melhor a nossa imagem perante o estrangeiro para poder elevar o número de exportações.

Obrigado.

[APLAUSOS]

 
José Miguel Rebolho

Antes de mais, muito boa noite a todos. Boa noite, Dr. Pedro Reis, queria agradecer pela presença que teve na nossa mesa, por mim e por todo o nosso grupo, o grupo Amarelo. Enquanto anfitriões queríamos mesmo saudá-lo e agradecer por toda esta partilha de tão boas informações que nos vão ser tão úteis ao longo da nossa vida. Aqui todos nós queremos ter uma vida activa, uma cidadania activa e queremos estar activos, passo o pleonasmo, mas frisando.

Ao longo das nossas pesquisas sobre o senhor Dr., encontrámos uma frase que nos suscitou alguma curiosidade e que diz assim: "Não existindo margem para recompensar financeiramente o mérito há que saber capitalizar o talento, ouvindo os colaboradores, incentivando a recolha de sugestões e ideias, envolvendo-os na tomada de decisões e na definição da estratégia da organização.”

Esta frase definitivamente só pode ser dita por um líder e é aquilo que quero frisar aqui: não há pessoa que seja o maior exemplo de liderança como temos o Dr. Pedro Reis.

[APLAUSOS]

Partindo então desta experiência, deste conhecimento, sobre a situação económica do país e do facto de estar tão directamente relacionado com as exportações e os investimentos por parte do nosso país no Mundo, qual considera ser a visão dos empreendedores e empresários estrangeiros sobre, precisamente, os empreendedores e empresários portugueses?

Obrigado.

 
Pedro Reis

Muito obrigado. Em relação à primeira pergunta que tem a ver com os sectores tradicionais, o primeiro aspecto é que o sector do vinho é particularmente sensível para a Economia portuguesa, pois é um dos nossos grandes embaixadores no Mundo. Há pouco referiram as praias e o sol, é verdade, e quem não conheça Portugal, muita gente ainda não conhece nem muito menos sabe o que hoje a Economia portuguesa representa, agarra-se a alguns sectores tradicionais e o vinho é um deles com o mérito todo.

Para terem uma ideia, já exportamos 600 milhões de euros de vinho para os mais diversos mercados. Acho que tocou num ponto sensível e certo que é nós de facto termos aqui um problema que é o vinho português ganhar muitas vezes em testes cegos, mas depois quando se sabe que é português muitas vezes perde por falta de mercado. Ou seja, no trade-off entre qualidade e preço estamos particularmente bem colocados, mas falta-nos algo ainda para aumentarmos e crescermos.

A resposta à sua pergunta, uma vez que estou de acordo com ela, é claríssima, é a capacidade financeira na sua lógica que é a da promoção mas também na lógica da produção. Dou só um exemplo muito rápido: quando visitei a China estava na State Green e num jantar falei no vinho português, como é óbvio, e disseram-me que isso era interessante porque iam montar uma holding, uma trader, dentro da State Green e até podíamos dar duas garrafas de vinho a cada funcionário, podemos trabalhar nisso com certeza. A AICEP está disponível e perguntei-lhe do que estaríamos a falar e um disse-me: quatro milhões, porque são dois milhões de funcionários.

Ora, Portugal não tem capacidade para isso. Um dos problemas de aumentar as nossas exportações de vinho é a regularidade porque se gostam pedem um encadeamento de encomendas difícil, mas também é a promoção, claramente. Conheço casos como o que referiu, por exemplo os espanhóis são muito agressivos nessa matéria e nós para entrarmos no mercado precisamos de estar nos locais-âncora, fazer promoção massiva e se calhar melhor articulação entre as nossas empresas e apoio público mas temos de realistas.

Em relação à segunda pergunta, o que é fundamental para fazer crescer ainda mais as empresas e pegar no tema do salto qualitativo que é preciso dar? A meu ver, o que é essencial - e tenho falado muito nessa matéria - é apostar muito ao nível dos empreendedores. Tenho estado com muitos investidores, agora interrompi as minhas férias de Verão para estar com investidores em fundos americanos que vêm à procura de boas ideias, boasstart-upse bons empreendedores.

Foi feito um périplo por empresas portuguesas e depois estive com eles e perguntei-lhes o que acharam de Portugal. A resposta foi a seguinte: "Vocês têm excelentes cabeças, excelentes ideias, excelentes jovens, mas ainda não encontraram o caminho para as tornar grandes”. Acho que esta é uma frase belíssima.

Ou seja, é como o caso do Silicon Valley na Califórnia e aí não tem nada a ver com dimensão de país, pois a vantagem de hoje, desta globalização, é que podemos pegar nos nossos projectos e dar-lhes escala. Isso é precisamente apostar no capital de risco e noprivate equity, por aí fora. Acho que há todo um espaço aí para desenvolver.

Acredito muito que a volta que se pode dar ao emprego em Portugal não é só nas grandes empresas, é exactamente criar condições para o empreendedorismo. Os Estados Unidos não se vai tanto abaixo nas crises e é muito mais rápido a recuperar porque as pessoas viram-se para o seu próprio negócio e isso é um espaço que temos de saber alimentar e estimular porque é por aí que passa o futuro de muita gente e de muitas empresas.

Deixem-me dar uma última palavra muito rápida para não vos maçar, que é quase um apelo: vocês são a melhor geração que Portugal - estou a falar em "economês” - já produziu. Portanto, o apelo que devemos fazer enquanto país tem duas características: uma é que não deixem de ser exigentes, ou seja, não compactuem com o que não está bem, não se acomodem com o que está errado, não desistam de lutar, mas ao mesmo tempo não percam a esperança.

Estava a dizer - e sou realista - que sei bem que o virar de página não está ao dobrar da esquina, mas está à nossa frente e ter essa percepção faz toda a diferença. Nós que estamos nesta fase diferente da carreira em relação a alguns de vocês, não imaginam, ou se calhar até imaginam, como é para nós importante neste momento em que tudo parece tão difícil, tão longe, sentir que o que nós estamos a fazer faz a diferença e que temos o vosso apoio e também a vossa exigência, essa combinação e relação. E acabo como terminei: a Universidade de Verão e iniciativas como esta são extremamente importantes para voltar a criar a ligação geracional e a ligação entre a sociedade civil e a política.

Sem isso, ficamos todos a perder. Com isso, tudo é possível.

Muito obrigado.

[APLAUSOS]

FIM