ACTAS  
 
29/08/2013
Jantar-Conferência com o Dr. Alexandre Relvas
 
Carlos Coelho

Caro Dr. Alexandre Relvas, a si não tenho de explicar o que vai acontecer. Já cá esteve noutras ocasiões e já faz parte da casa.

Vamos, por isso, passar já de seguida ao momento cultural, protagonizado pelos grupos Castanho e Cinzento.

O grupo Castanho escolheu um poema chamado "A Portugal” por apresentar uma visão catastrófica do país, que se calhar não será a visão de muitos aqui dentro, mas apresenta aquilo que os jovens e a população em geral acha do atual momento de Portugal.

Há um sentimento de tristeza, de raiva e de frustração para os jovens, principalmente pelo flagelo da falta de emprego que a muitos afeta. Foi escolhido também por ser bastante profundo e levar a reflectir sobre o nosso próprio sentimento acerca do estado da nação.

Importante também na escolha foi a riqueza de adjectivo, a força linguística que adquire e o facto de pertencer a um poeta português.

Diz igualmente o grupo Castanho que terá uma certa piada e deixará a sua marca nesta UV 2013.

O grupo Cinzento escolheu a "Dedicatória ao Amigos”, de Fernando Pessoa. Escolheu este poema por representar a nossa vida em momentos de mudança. Valoriza a recordação das boas experiências e das boas pessoas com quem nos cruzamos ao longo do nosso percurso.

"Que fiquem as boas lembranças se já mais nada restar”. É isso que pretendemos levar da UV, as melhores vivências e os melhores testemunhos. Queremos deixar uma palavra de homenagem a mais uma bombeira falecida hoje no combate aos incêndios florestais , refere o grupo Cinzento.

Pelo grupo Castanho ouviremos a Beatriz Branco, pelo Cinzento a Alexandra Ramalho.

[São lidos os poemas]

[APLAUSOS]

Depois de jantar:

BRINDE:

 
Jorge Ribeiro

Boa noite a todos. Hoje temos o privilégio e a honra de termos entre nós uma figura ímpar. O Dr. Alexandre Relvas é uma figura ímpar, não só pelas suas funções governativas, cargos importantes e pelo sucesso que tem como empresário, o que hoje em dia no nosso país é muito difícil, mas acima de tudo porque é um exemplo para todos nós que estamos aqui hoje, por causa da sua seriedade e devoção com que sempre se entregou a todas as causas públicas onde esteve.

Por tudo isto, o grupo Encarnado convida todos os presentes a erguer o copo e a fazer um brinde pela saúde do Dr. Alexandre Relvas.

[APLAUSOS]

 
Carlos Coelho

Senhor doutor Alexandre Relvas, senhora deputada Mónica Ferro, senhores deputados Duarte Marques, Nuno Matias e Simão Ribeiro, senhores conselheiros, avaliadores, minhas senhoras e meus senhores, o nosso convidado de hoje tem como hobby o Desporto: ténis como praticante, o futebol como espectador e apoiante do Sporting. A sua comida preferida é polvo, qualquer prato de polvo acompanhado de um vinho tinto alentejano, em especial do Redondo. O animal preferido é o leão que também é o seu signo. O livro que sugere é o "Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa e o filme "Gandhi”. A qualidade que mais aprecia é a honestidade.

O Dr. Alexandre Relvas foi membro do Governo, como já aqui foi dito, foi dirigente nacional do partido e naquilo que mais nos interessa, foi Presidente do Instituto Sá Carneiro. Esteve várias vezes nesta universidade, quer como Presidente do Instituto Sá Carneiro a abrir os trabalhos na segunda-feira, quer como personalidade convidada em jantares-conferências.

Devo confessar que a circunstância que levou a que o Dr. Alexandre Relvas tivesse sido trazido a esta universidade como personalidade convidada nunca teve a ver com o seu perfil político. Mas poderia ter sido, uma vez que exerceu as funções do Governo de forma brilhante, foi um presidente do instituto que deixou marca, foi um dirigente nacional do partido que se entregou às causas, como foi bem referido pelo Jorge Ribeiro.

Quando dizemos que a Economia portuguesa precisa de provar que é capaz e que é o desafio estratégico da internacionalização da nossa Economia, o Dr. Alexandre Relvas traz com ele um exemplo de sucesso que se chama Logoplaste. Portanto, não se trata de convidar um teórico ou um sábio que nos vem construir uma teoria, por mais interessante e importante que ela seja. É um homem que construiu e que nos pode falar de como se fez um caso de sucesso em Portugal e no Mundo. Ele está aqui hoje convidado como empresário.

Tenho o privilégio de dirigir a primeira pergunta ao Dr. Alexandre Relvas: como explica o sucesso da Logoplaste? É um caso único, só esta empresa pode ter a expressão no Mundo que conseguiu, ou pode ser imitada para outras empresas? Ou dito de outra maneira: há razões para termos optimismo na Economia nacional, ou estaremos confrontados com dois ou três casos de sucesso e uma imensidão de casos de insucesso?

Minhas senhoras e meu senhores, para responder à minha pergunta e às vossas, neste jantar-conferência da Universidade de Verão 2013, o Dr. Alexandre Relvas.

[APLAUSOS]

 
Alexandre Relvas

Boa noite. Primeiramente, agradeço as simpáticas palavras do Jorge Ribeiro e do Carlos Coelho. Estou aqui com prazer, como o Carlos disse já nem sei quantas vezes cá estive mas foi sempre com prazer que vim aqui a Castelo de Vide. Esta é uma iniciativa importante do PSD, da JSD, do Instituto Sá Carneiro e o entusiasmo com que todas as várias gerações têm estado presentes aqui ao longo destes 11 anos resulta da importância desta iniciativa e do quão marcante ela é.

Não posso deixar de nesta altura dar os parabéns sobretudo ao Carlos Coelho. Esta é uma iniciativa partidária, mas é muito uma iniciativa do Carlos Coelho e tem muito a ver com a alma, a capacidade de organização, o entusiasmo do Carlos Coelho, que tiveram a oportunidade de partilhar ao longo destes últimos dias.

Tenho uma intervenção relativamente longa, pois quis escolher dois tópicos: partilhar a minha experiência da Logoplaste, falando do caso concreto de uma empresa e depois falar-vos do contexto empresarial, razões para estar optimista hoje em Portugal. Enfim, partilhar um pouco esses meus sentimentos. Não vou começar por responder à pergunta do Carlos Coelho, mas verão ao longo da minha intervenção que acabarei, apesar de não ter sido combinado, por responder directamente à questão dele.

Falar-vos-ei do meu caso em concreto, da minha experiência empresarial, anotem as questões que depois estarei disponível para responder a todas que entenderem. Esta é uma visão geral, uma apresentação comercial da Logoplaste, não a adaptei para aqui, pois todos têm obrigação de ler inglês com a idade que têm e, portanto, não mudei os slides que estão em inglês pois muitos deles têm a ver com a forma que nos apresentamos comercialmente.

A Logoplaste é uma empresa portuguesa, criada há 36 anos e que desde o momento da sua fundação sempre teve uma missão muito clara: produzir embalagens rígidas em plástico. É impossível viver em Portugal, em muitos países europeus e actualmente até nos Estados Unidos, sem se tocar diariamente num produto produzido pela Logoplaste. Falo numa perspectiva de unidades dedicadas, temos a generalidade das nossas fábricas dentro das fábricas dos nossos clientes. Ou seja, produzimos directamente para as linhas de enchimento e sempre associados a contratos de médio-longo prazo.

Como uma imagem é melhor que mil palavras, têm ali o que nós produzimos em vários países, alguns europeus e até nos Estados Unidos, naqueles que são os nossos clientes. Estamos muito fortes no sector dos lacticínios: aqui em Portugal produzimos todas as embalagens de iogurtes líquidos que são consumidas no país. Somos fortes também em produtos alimentares, produzimos por exemplo na Holanda as embalagens do ketchup da Heinz, a generalidade de óleos alimentares e azeites em Portugal, todas as embalagens de margarinas e manteigas. Temos também uma posição forte no sector das bebidas, cerca de 60% do mercado das águas, produzimos embalagens para bebidas espirituosas. Nos Estados Unidos temos uma fábrica onde produzimos embalagens para a Gordon’s, para a Johnnie Walker e outras bebidas que ali têm.

Para a produção destas embalagens temos associadas as grandes empresas produtoras alimentares do Mundo, que escuso de estar aqui a enumerar. Produzimos também embalagens para o que eu chamo ali de "Personal Care”, como por exemplo champôs da Pantène e da H&S, o Listerine da Johnson & Johnson em Itália para toda a Europa, os colorantes de cabelo da L’Oreal na Bélgica também para toda a Europa. Produzimos também para "Home Care”: Fairy lava-loiça em Londres para a Procter & Gamble para toda a Europa; lubrificantes para o Brasil para a Mobil por exemplo. Enfim, temos uma gama muito diversificada de produtos e somos totalmente focados na produção deste tipo de embalagens e, como eu dizia há pouco, é difícil beberem uma água ou um iogurte , ou pegarem numa embalagem de manteiga ou margarina, ou de um óleo alimentar, ou da Coca-Cola ou 7UP sem sermos nós a produzir.

Muitas delas são produzidas em unidades de outro tipo, sem sermos nós. Pus aqui uma imagem para se ter uma percepção: esta é uma fábrica nossa em Inglaterra, que tem o hall de produção em que são feitas as embalagens e o nosso conceito chama-se "hole in the wall”. Porque as embalagens vão através de transportadores que aparecem na imagem à direita em baixo e passam as linhas de enchimento dos nossos parceiros através de uma parede que separa o nosso hall de produção dos nossos clientes. A generalidade das nossas fábricas são desta natureza.

Uma das razões da nossa competitividade tem que ver com o facto de sermos praticamente os únicos que apenas trabalham com base neste conceito. Vendemos hoje 450 milhões de euros. Portanto, somos em Portugal uma empresa com uma certa dimensão e internacionalmente uma empresa média. Temos presença em 16 países em quatro continentes, trabalhando na Logoplaste 1982 pessoas de 32 nacionalidades e temos mais de 58 contratos em fábricas nesses 16 países.

Esta é a evolução das nossas vendas: a empresa foi fundada em 1976 por uma família que ainda tem um accionista na Logosplaste; em 1992 começámos a internacionalização e já vos explicarei a seguir porquê. Foi um caminho extremamente difícil. Hoje só vos falo dos lados bons, mas não quer dizer que não tenha havido um caminho das pedras com muitas dificuldades. As empresas e todos nós na vida nos defrontamos com muitas dificuldades e somos obrigados a nos confrontar com muito mais situações adversas do que aquilo que depois contamos, porque no fim do dia normalmente só fica o lado bom das histórias.

Fomos crescendo ao longo dos anos em Portugal, mas o nosso grande desenvolvimento foi internacional. Há 20 anos, partimos daqui do canto da Pensínsula Ibérica e transformámo-nos numa empresa global. Aquele mapa é exagerado, não estamos no Alasca, mas nos Estados Unidos; estamos em S. Petersburgo, não em Vladivostok, mas a Rússia vai até lá e por isso colocamos também, mas enfim, estamos nas américas, na maioria dos país europeus, até no sudoeste asiático no Vietname e na Malásia.

Porque é que fomos para o exterior? Este país é extraordinário, mas somos apenas 10 milhões. Portanto o mercado é muito limitado e uma empresa que tenha um certo sucesso no mercado interno, a partir de certa altura tem determinadas limitações para crescer. Daí uma das razões, mas outra razão é que mesmo para sermos competitivos, face à nossa concorrência no mercado interno, nós precisamos de ganhar escala e dimensão que era também necessária para termos credibilidade junto das empresas com que trabalhávamos.

Ao mesmo tempo, foi para nós uma oportunidade. A seguir a Maastricht houve uma profunda reorganização das empresas europeias que repensaram as suas estruturas industriais na Europa. A Europa teve nisso um efeito extraordinário de reorganização da estrutura industrial e nós tirámos muito partido dessa reorganização pois houve muita centralização de produções e isso levou a que as empresas pensassem toda a sua cadeia de valor. Por outro lado, os conceitos prevalescentes levaram a que as empresas tivessem interesse em trabalhar com fornecedores com a Logoplaste.

Cada vez mais se falava de que as empresas se deviam focar naquilo que sabem fazer e não em actividades complementares, que devem dar atenção ao Return On Investment (ROI), portanto minimizar investimentos e tudo isso proporcionou oportunidades à Logoplaste. Foi uma questão de necessidade e de oportunidade.

Actualmente, quem são os nossos principais mercados? Portugal é ainda um mercado muito importante, representando 14%, mas os principais são o Reino Unido, o Brasil, depois estamos em Espanha, França, Estados Unidos, Holanda, Canadá, Itália e ainda com percentagens mais pequenas uma série de outros mercados. O que é importante quando se analisa uma empresa é perceber porque é que ela é competitiva. Tentei sintetizar para partilhar convosco as razões por que me parece que a Logoplaste é competitiva: por um lado o nosso conceito industrial, por outro os talentos, recursos humanos que trabalham na empresa, a aposta fortíssima na inovação que fizemos ao longo dos anos e o nosso conjunto de clientes.

Quando vamos visitar um cliente potencial, dizemos: vocês sentem-se confortáveis em sentar ao lado da Danone, da Nestlé, das Águas do Luso, da Nutrinvest, entre outras principais empresas de bens alimentares e também dos nossos fornecedores que complementarmente permite que a nossa actividade e cadeia de valor sejam competitivas. Como vos disse, temos um conceito muito próprio mas esta é uma das bases da nossa competitividade: normalmente para uma empresa ser competitiva e o seu negócio ser afirmado não podemos fazer como todos os outros fazem.

Até se pode fazer um produto como este, uma embalagem rígida de plástico parece tecnologicamente muito simples, mas é muito mais difícil do que parece. Agora o que temos de pensar é como vamos fazer diferente de todos aqueles que podem fazer este mesmo produto e o fazer diferente é o que nos cria um espaço próprio. Foi este o sucesso deste conceito.

Portanto, temos sempre as nossas unidades dentro da fábrica dos nossos clientes e tudo o que é equipamento, gestão de pessoal, operacional, é feita por nós. Este modelo tem enormes vantagens, uma delas é que queima etapas de quem forneça no exterior. Não há stocks, transportes e hoje em dia até há outros factores, por exemplo, minimizarmos a pegada ecológica e termos assim do ponto de vista ambiental aspectos muito fortes.

Ao ir para dentro dos nossos clientes há outra vantagem: assinamos contratos a médio-longo prazo, tendo assim uma grande estabilidade na nossa actividade produtiva. Também apresentamos um conjunto de vantagens para o nosso cliente ter uma perspectiva, ele não tem que investir, reduz as suas necessidades de capital, elimina o custo de transporte, tem vantagens operacionais pois toda a logística desaparece, é abastecido "just in time”. Depois, a colaboração com o fornecedor é mais profunda porque há esta proximidade física, trabalhamos muito em investigação e desenvolvimento em conjunto. E, depois, para empresas que sejam sensíveis às questões da sustentabilidade, nós reduzimos as emissões de CO2, reduzimos fortemente o peso das embalagens para elas não estarem a ter de ser transportadas e todos os outros packagings necessários para transportar as embalagens. Portanto, há objectivamente vantagens com o nosso conceito.

Outro aspecto muito importante como em qualquer empresa são os recursos humanos, que chamamos de "talentos” na Logoplaste. São as pessoas que fazem uma empresa, pois ela não é apenas um empresário, mas sim o empresário e o conjunto de trabalhadores que no dia-a-dia se esforçam, na generalidade deles numa empresa com duas mil pessoas de forma anónima, e depois todos os fornecedores, os chamados stakeholders , toda a cadeia de valor que eles criam e que permite que sejamos competitivos.

Actualmente, somos quase dois mil nos vários mercados em que estamos e digo-vos aqui que para mim existem dois aspectos muito importantes quando se olham para as pessoas de uma empresa: um deles é que hoje as empresas são muito mais aquilo que sabem fazer do que aquilo que fazem. A Logosplaste é essencialmente uma empresa de conhecimento do que propriamente produtora de embalagens e o que nos valoriza é o conhecimento que vamos acumulando ao longo do tempo. Depois, o outro aspecto importante - e daí falar da importância da generalidade dos trabalhadores - é que quanto mais pessoas tem uma empresa mais valor tem cada uma das pessoas, pois está com mais autonomia e mais independente de decisões individuais.

É impossível controlar cada gesto, cada decisão de todas as pessoas, muito menos numa empresa que tenha milhares de pessoas. Portanto, este são os dois aspectos a que damos muita relevância e esta empresa tem sido construída com base na capacidade técnica, nos valores, na alma, na paixão, das duas mil pessoas que trabalham nela.

O que é nos preocupa em relação aos nossos trabalhadores? A primeira questão é sermos sempre uma empresa de oportunidades, o termos sido ao longo do tempo dá segurança, perspectivas de futuro e damos muito valor ao desenvolvimento pessoal e à formação profissional. Procuramos trabalhar com quadros de referências claras, as pessoas têm de saber exatamente quais são os objectivos e quais os planos de actividade. Temos esquemas de avaliação que procuramos que sejam motivadores. Procuramos garantir qualidade no recrutamento e à medida que se tem nome, que se ganha dimensão, é fácil ir buscar os melhores ao mercado e essa é uma preocupação que temos. Procuramos que haja muita comunicação, muita partilha de informação sobre o que a empresa faz, quais são os objectivos e grandes desafios.

Um aspecto muito importante é o facto de sermos, hoje, uma empresa em que trabalham pessoas de várias culturas, nacionalidades e diferentes continentes. Apesar disso, ser uma empresa portuguesa e dar um enorme valor aos valores locais. Queremos ser uma empresa que em cada sítio que esteja seja uma empresa local. Dou-vos aqui um exemplo: procuramos adaptar-nos às culturas nacionais, trabalhamos cada país com gestores desse país, prezamos imenso os portugueses, mas nos Estados Unidos trabalhamos com americanos, no Brasil com brasileiros, no Vietname com vietnamitas, etc.

O departamento central da Logoplaste procura traduzir as nacionalidades todas que trabalham na Logosplaste. Não queremos também equipas centrais em que só trabalhem portugueses, mais uma vez esta empresa tem de ter essa perspectiva de trabalharem pessoas de várias nacionalidades. Temos centros de excelência nos países em que sejam mais competitivos, também não ter a ideia que é no país de origem que tem de se centrar todas as actividades mais nobres. Depois, o tema "Pensar local e agir global”: somos uma empresa global, enfim, tem muito a ver com a frase, pensamos localmente e adaptamo-nos às culturas e formas de estar locais.

Uma área muito importante para nós é a Inovação. Temos um departamento que está neste momento em várias geografias e que chamamos de Innovation Lab. Actualmente tem Ups no Brasil, nos Estados Unidos, no Reino Unido e restante Europa. Vamos agora estabelecer um em Kuala Lumpur no Sudoeste Asiático. O centro é em Cascais, mas depois somos obrigados, em termos de desenvolvimento, a trabalhar com proximidade aos nossos clientes.

Só para terem uma ideia: o que é que nós fazemos? Não procuramos a molécula do próximo produto petroquímico que vai fazer embalagens, mas sim adaptar todas as tecnologias que estejam no mercado às necessidades dos nossos clientes. Temos equipas de engenharia de produto e de prototipagem e, portanto, se alguém chega à Logoplaste e diz que quer fazer 10 milhões de embalagens de um produto, nós temos equipas que podem sentar-se juntamente com o cliente e fazer o design, e depois outra equipa para fazer a engenharia da embalagem. Entre o design e a engenharia da embalagem, esta última implica um desenho que não é apenas um esboço da embalagem mas já uma embalagem inicialmente trabalhada.

Depois, dizem: "Mas eu quero ter a percepção física da embalagem.” Então, temos um conjunto de equipamentos de prototipagem em três dimensões (3D) em que têm a percepção física da embalagem. Depois, dizem: "Agora quero fazer testes de mercado.” Nós temos um conjunto de equipamentos laboratoriais que conseguem reproduzir os equipamentos industriais e podem sair daí ao fim de 15 dias com milhares de embalagens para fazer os testes de mercado, testes de linha de enchimento, testes de etiquetas, o que quiserem.

Esta capacidade de desenvolvimento para produzir as embalagens de design mais adaptado, inclusive tecnicamente, nós fomos conseguindo ao longo do tempo. Porque é que digo que isto é uma empresa de conhecimento? Nós, hoje, desenvolvemos embalagens para a Danone e ficamos com conhecimentos; no dia seguinte para a Coca-Cola e ficamos com os conhecimentos; depois para a Procter & Gamble e ficámos com o respectivo conhecimento; e é esse acumular de conhecimentos ao longo de 36 anos que hoje faz toda a diferença.

Muitas são as embalagens que nós produzimos e vocês conhecem: as embalagens de ketchup que produzimos para toda a Europa a partir da Holanda, as embalagens da Danup e dos Smoothies da Danone, as embalagens da Smirnoff nos Estados Unidos, o Listerine produzimos em Roma para toda a Europa, a embalagem do Fairy produzimos em Londres também para toda a Europa, a embalagem de lubrificantes de que vos falei há pouco e que produzimos no Brasil para a Mobil.

São alguns exemplos do que nós fazemos e da confiança que têm estas empresas, não só para que tenhamos o trabalho da produção mas também o de desenvolvimento de produtos.

Sobre os nossos parceiros: o que é que estas empresas procuram? A generalidade destas empresas querem competitividade em termos de preço. No fim do dia podemos ser todos excepcionais, mas em termos empresariais há uma coisa que marca profundamente: o preço. Podemos "vestir a noiva”, irmos bem arranjados, termos imensa força a falar, imensa credibilidade, mas no fim do dia de fazermos um grande discurso o que eles nos perguntam é: "A quanto é que vende a sua embalagem?”. Portanto, o preço é o aspecto decisivo. Quem for trabalhar para qualquer empresa pode ter a certeza que ser competitivo hoje não é sê-lo amanhã e estas empresas o que nos exigem é no preço e no que é que lhes podemos dar de poupança daqui a um ano e por diante. Tanto que eu chamo ali de "continuous improvement”.

Depois temos uma capacidade de serviço inovador, o "time to market” que consiste em quanto tempo é que se transforma as novas ideias em produtos que possam ser apresentados nos mercados.

Por isso é que temos a capacidade para acelerar o momento entre a nova ideia e o chegar ao mercado. Como outra qualquer empresa, não queremos ter problemas de qualidade, queremos que nos forneçam produtos fiáveis e que se houver problemas de qualidade queremos garantias da capacidade de reacção. Temos de ter capacidade de racionamento global, entre outros aspectos já mais específicos. Portanto, é isto que esperam.

Dou-vos um exemplo: a Johnson & Johnson que é da Listerine com que trabalhamos. Vejam o tipo de fornecedores que eles têm: hoje, posso ser um fornecedor transaccional, que é um fornecedor a quem eles compram esporadicamente; um fornecedor crítico, que é um fornecedor mais activo; um fornecedor transparente que é em termos de custos, em que negoceiam as várias componentes do custo, que é o que fazem connosco; depois têm o fornecedor integrado, que está acima do crítico e que além de tudo aquilo tem capacidade de desenvolvimento e de os seguir globalmente. Logo, se se quiser estar "casado” com estas empresas a médio-longo prazo tem de se ter não só as qualidades para ser transaccional, para ser crítico, mas tem de ter hoje a capacidade de inovação e de se ser global.

Isto é verdade num sector como o nosso das embalagens, mas também é verdade na generalidade dos sectores de actividade.

Este é um ponto complementar ao que vos disse, mas que queria salientar e que tem a ver um pouco com a actividade da Logoplaste: hoje, quem compete são ofertas e não empresas. Quando há um produto novo no mercado, da Nestlé ou da Danone, por trás desse produto está uma rede enorme de empresas. Ou seja, quem está a competir não é a Nestlé ou a Danone. Nós vemos, assim, uma cadeia de valor estruturada que é diferente entre as duas empresas.

Houve, nos últimos anos, uma reconfiguração total do sistema de criação de valor da qual nós tirámos partido, porque no âmbito dela passaram a tirar cada vez mais partido de empresas como a nossa. Portanto, há cada vez mais alianças, parcerias, e esta outsourcing em que a Logoplaste se coloca. E porquê? Porque há escassez de recursos, a tecnologia não está acessível a todas as empresas, porque as empresas precisam de flexibilidade e de economias de escala, e porque há limites para a capacidade de gestão.

Era isto que queria chamar à vossa atenção sobre o sucesso das empresas, pois há muitas empresas em Portugal. Antigamente, fazíamos um comentário negativo sobre as empresas, dizendo que era uma indústria de sub-contratantes, empresas sem capacidades de criar os seus próprios produtos e que se integravam na rede de outras empresas. Hoje isso deixou de ser uma desvantagem e é uma vantagem fortíssima, pois cada vez se valoriza mais a capacidade dos sub-contratantes. Não estamos na primeira linha, mas estando na segunda somos daqueles que têm uma posição muito marcante nas cadeias de valor.

Só mais uma nota sobre os fornecedores, mais sobre o tipo da relação com os fornecedores, para vos dar o nosso exemplo que julgo ser importante e raro junto das empresas portuguesas. Nós, apesar de sermos uma empresa com alguma dimensão, chegámos a certa altura à conclusão de que era importante termos uma central de compras e associarmo-nos a outras empresas para sermos ainda mais competitivos a comprar. Um dos grandes desafios para as empresas portuguesas é a importância de estabelecer alianças e ganhar escala.

Às vezes, valorizamos demasiado a autonomia, a independência, da nossa empresa, mas pode-se ganhar enormemente estabelecendo alianças, nomeadamente em áreas muito específicas que não põem em causa a imagem nem a autonomia no desenvolvimento do negócio. Por exemplo, desenvolvemos com a Riopel que é das maiores empresas têxteis, com a Nutrinvest que faz os óleos alimentares, com a Central de Cervejas, e temos uma central de compras de produtos industriais, ou seja, compramos em conjunto automóveis, combustíveis, computadores, economato, embalagens, etc.

Vamos em conjunto ao mercado e todas estas empresas apesar da dimensão delas, todas ganham com isso. Penso que este seja um grande desafio para as empresas, nomeadamente as portuguesas, que é trabalhar em conjunto sem perder autonomia nem o que é essencial do seu negócio.

Um aspecto que nunca é citado como fornecedor mas para nós foi decisivo, foi esta empresa ser feita não por capitalistas ou pessoas com meios limitados, mas sim ter o apoio fortíssimo da Banca, em particular de dois bancos a confiança, transparência e perspectiva de médio-longo prazo, podendo nos servir globalmente financiam a generalidade dos nossos projectos.

Isto só para dizer que não há negócios empresariais com crescimento se não houver uma parceria fortíssima com a Banca e é dos primeiros fornecedores com quem temos de ganhar confiança. Nunca se pode trair a confiança naturalmente, mas muito menos com os bancos.

Mais dois aspectos sobre a Logoplaste: procuramos ser uma empresa com responsabilidade social em termos ambientais, já que produzimos plásticos e não o tentamos esconder como é óbvio. Produzimos mais de 10 mil milhões de embalagens por ano, como viram há bocado, portanto a questão ambiental é muito sensível, procuramos ser muito activos nesse aspecto. Temos uma política também em termos de responsabilidade para com a sociedade, vemo-lo como uma oportunidade de criar valor entre a sociedade e a empresa, sendo para nós um factor de coesão e ligação dentro da Logoplaste. Em relação aos nossos clientes quando nos comparam com as outras empresas é uma vantagem competitiva, portanto não é só altruisticamente que temos este política de responsabilidade social.

Não vou entrar em pormenor, mas peço-vos que olhem para os três pontos do meio: procuramos reduzir o impacto dos nossos clientes em termos de pegada ecológica com o nosso modelo, pois hoje em dia é uma questão decisiva; depois, procuramos trabalhar activamente com os nossos clientes para reduzir pesos das embalagens. Por exemplo, quando lançámos o garrafão de 5 litros em Portugal tinha 100 gramas e hoje tem 70 grama, tirámos 30%. O consumidor não tem percepção mas o impacto ambiental reduz-se dramaticamente.

Cada vez mais trabalhamos com produtos reciclados e muito do que está dependente de não o fazermos é por causa dos consumidores para recuperarmos material. Mas hoje em muitas das embalagens que fazemos, como o Fairy e a Lucozade, em Inglaterra, utilizamos entre 50% e 100% de material reciclado. Em Portugal também trabalhamos muito com material reciclado e somos uma das empresas do Mundo que mais tem trabalhado com materiais renováveis, ou seja, materiais com origem biológica com os quais trabalhamos junto dos nossos clientes.

Procuramos estar na primeira linha, fomos a única empresa portuguesa sócia da Associação Ponto Verde, começando a empresa e procuramos sempre ter uma intervenção muito activa.

Depois, temos também uma responsabilidade social em relação à comunidade. Pensamos que os valores profissionais devem ser iguais aos valores pessoais, que a solidariedade e uma necessidade e um valor ético num país em particular como o nosso, com carências profundas. Uma vez vi esta frase que não me canso de repetir: não vemos a solidariedade das empresas com o Mundo, com a sua comunidade, como um tributo que o capitalismo presta à virtude, mas vemo-lo como algo que tem a ver com os valores reais que a empresa comunga. Temos um projecto em Cascais sobre o qual há bocado falava com o Duarte Marques, é o CADIn.

O CADin é uma instituição que apoia crianças de deficiência de desenvolvimento neurológico e psiquiátrico. Não vou contar uma história sobre o que vamos fazer. O CADIn existe desde 2003 e 30% das crianças que recorrem ao CADIn beneficiam de uma bolsa social e não pagam.

Para terem uma ideia da importância da intervenção têm ali os números ao longo dos anos. Em 2003 apoiámos 1900 crianças e no ano passado cerca de 1600, portanto, já apoiámos entre 2003 e 2013 praticamente 16 mil crianças. Só no ano passado recorreram ao CADIn 1600 famílias, houve 5000 consultas, 600 avaliações e 23 mil sessões de suporte. Para terem uma ideia: uma família que tem uma criança com problemas de desenvolvimento tem no CADIn o apoio médico para fazer a avaliação e depois todas as terapias necessárias se a criança tem Síndroma de Down, Asperger, ou outro, tem a possibilidade de ter apoio e de ter uma intervenção do CADIn.

Situa-se ao lado do edifício da Logoplaste num edifício construído por nós, é algo que marca profundamente a nossa actividade e de que, como devem calcular, temos um enorme orgulho.

Estou cansado, tal como muitos portugueses, de dizerem mal do meu país e de depender de decisões externas ao meu país. Estou cansado que tenhamos uma visão negativa sobre o futuro e, portanto, o que gostava de partilhar convosco é que este país é muito melhor do que nós todos dizemos e há razões para estar optimista em relação ao futuro. Isto é independemente das políticas. Tenho receio de que o Pedro Reis, ontem, vos tenha falado das mesmas coisas, mas se falou não faz mal recordar e repetir o que é bom deste país, algo que lhe é intrínseco, como eu digo são vantagens de Portugal como destino de investimento.

Não tem que ver com estar o PS, PSD, CDS ou Bloco de Esquerda no Governo, mas sim com qualidades que são nossas e que foram afirmadas ao longo de gerações, fazendo hoje uma diferença em termos internacionais. Queria dizer-vos que mesmo com a estrutura produtiva actual, com os empresários actuais, com as empresas que temos, e portanto, sem estar a vender projectos futuros, há um enorme potencial da diversificação das exportações e é isso que tem mostrado o crescimento das mesmas nos últimos anos.

Os empresários têm feito um trabalho significativo, mas ainda temos espaço para melhorar as estratégias empresariais e isso vai fazer com que a nossa Economia seja mais competitiva. Depois, quero dar-vos só um lamiré: temos a sorte - e sobretudo vocês - de vivermos uma época de oportunidades extraordinárias em termos internacionais, de que se deve tirar partido. O país pouco celebrou, mas nós reequilibramos em três anos a balança externa e a de bens e serviços. Apesar do país não ter comemorado, nem a Imprensa ter valorizado, é algo que é extraordinário e de que nos devíamos orgulhar. Não queria deixar de sublinhar que tem que ver com o trabalho e decisões de milhares de empresas e trabalhadores.

Apesar da desvalorização dos indicadores económicos recentes, ainda hoje houve indicadores do INE que também são extremamente optimistas em relação ao futuro. É de salientar que somos um país com vantagens extraordinárias como destino de investimento. Mais uma vez, como dizia há pouca, não tem a ver com políticas económicas; geograficamente estamos no centro do mundo ocidental, no meio de um mercado de mil milhões de pessoas que é o mercado europeu e americano. Em alguns aspectos temos sorte e este é um deles, também temos uma posição privilegiada na Península Ibérica que é um mercado forte e com acesso a África que tem um mercado muito potencial. Temos a qualidade muito boa das infraestruturas e mais uma vez não interessa quem construiu, e não falo só das rodoviárias, mas também aéreas, portuárias, electricidade e telecomunicações.

De acordo com estudos anuais onde se comparam 144 países estamos no 11º lugar e nós estamos sempre a dizer que se gastou uma absurda quantidade de dinheiro em estradas, entre outros, mas para os industriais é muito importante ser fornecida a electricidade e telecomunicações durante todo o dia e ter portos e aeroportos. Tudo isto existe e funciona muito bem em Portugal. Temos um bom ambiente de negócios e facilidade de instalação de uma empresa. A seguir, vou-vos mostrar à frente de quem é que nós estamos, segundo o Banco Mundial.

Temos recursos humanos com uma avaliação muito positiva pelos investidores internacionais. Temos desafios extraordinários em termos da qualificação dos nossos recursos humanos. Infelizmente, Portugal trata mal dos seus filhos e tem-nos tratado mal ao longo de gerações não dando a educação que eles mereceriam, persistindo ainda uma parte da população com níveis educacionais muito débeis. Mas quando se trata destas avaliações internacionais ao nível da eficiência do trabalho, capacidade de trabalho em equipa, capacidades linguísticas, nomeadamente ao nível do management que serão cargos que vocês irão ocupar, nós aparecemos muitíssimo qualificados.

Este país tem condições para ter uma boa qualidade de vida, é excelente para se viver, temos um clima extraordinário, há segurança apesar do clima económico que estamos a viver e temos um bom sistema de saúde - discute-se se é mais privado ou mais público, mas na essência estamos todos de acordo que temos um bom sistema de saúde, sobretudo se compararmos com os dos nossos pais ou avós. Mesmo em termos internacionais temos um sistema educativo que funciona, temos estruturas produtivas e, depois, somos das economias mais abertas do Mundo e também não valorizamos isso. Mais uma vez, somos colocados nesse aspecto em 9º lugar entre os 144 países.

Nós temos de afirmar, quando se fala do país, que estes são factores positivos que fazem a diferença para quem trabalha em Portugal. Depois quando nos comparam, não sou eu, não é o PSD, não é o Instituto Sá Carneiro, mas sim o Banco Mundial que na análise anual de 2013 nos coloca em 30º lugar entre 185 países em termos daquilo que eles chamam de "doing business”, isto numa classificação que resulta de se apreciar o que é que são as condições para iniciar um negócio, obter licença de construção, entre outros.

Todos nós nos queixamos muito, há com certeza aspectos a melhorar, mas estamos em 30º lugar à frente da Holanda, da Bélgica, da França, da Espanha, da Polónia, portanto vale a pena olharmos para isto. É óbvio que há coisas a melhorar, em relação ao trabalho das nossas câmaras, em relação à obtenção de crédito, aos pagamento de impostos, em relação a muitas áreas há aspectos a melhorar, mas somos bons e temos indicadores muito favoráveis na generalidade destes factores que são apreciados. Portanto, não é por razões meramente de contexto que não há mais empresas nem mais actividade empresarial em Portugal.

Depois, a Forbes, uma revista americana, que também analisa a competitividade dos países, coloca-nos aqui em 24º. Analisa factores muito próximos daqueles para os quais eu chamei a atenção. Estamos à frente da Espanha, da Itália, da Áustria e da Polónia. Ouvimos falar sobre isto pouco. Quando se fala em termos negativos de Portugal, se a Forbes nos trouxer uma notícia negativa como por exemplo o Washington Post sobre a nossa Educação, ou o Financial Times sobre o nosso sistema de saúde, é a primeira página na Imprensa portuguesa, mas estas positivas de que vos falei não chegam às primeiras páginas.

É sobre esta capacidade que se está a construir o futuro do país, não é sobre as debilidades que muitas vezes são tão valorizadas. Outro aspecto que acho que é importante é que muitas vezes estamos a falar no futuro neste país: "é preciso mudar o contexto, aparecerem novos empresários, apostarmos nas tecnologias…” É óbvio que isso é fundamental, mas com a estrutura empresarial que temos nós já somos fortemente competitivos nalguns mercados e o que se denota, quando se analisam as estatísticas, é que temos um potencial enorme de diversificação de mercados. E muito deste crescimento que tem estado a ocorrer nestes últimos anos nas exportações nos últimos três ou quatro anos tem a ver com este potencial de diversificação de mercados.

Quero chamar a atenção só para três ou quatro pontos: 47% das exportações portuguesas são feitas para três países e 63% para os seis países que ali estão. Vejam ali o número de países que está de fora. Porque é que havemos de ser competitivos na Alemanha, ou na França e não somos na Holanda, na Bélgica, nos países escandinavos? Portanto, há países para os quais podemos ir trabalhar desde que os empresários se virem para esses países; há espaço para a nossa capacidade empresarial e exportadora para outros mercados.

Por exemplo, 78% das exportações são realizadas para o espaço comunitário e o que temos visto é os espaços fora da comunidade a crescerem fortemente as exportações. A mesma coisa nos Serviços. Hoje, há todo o resto do Mundo para nós exportarmos. Por que vos estou a mostrar estes números? Eles podem ter uma perspectiva negativa, estamos muito dependentes dalguns países, é mau, mas eu vejo de forma extremamente positiva: temos múltiplos países com estrutura produtiva actual para diversificarmos nas nossas exportações.

Vejam, depois, nalguns países onde existe um dinamismo enorme, como o Brasil, a China, a Rússia, exportamos para muitos deles menos de mil milhões de euros por ano, o que é praticamente nada para um país que exporta 60 mil milhões de euros. Portanto, também nestes países há oportunidades muito fortes. Há um futuro em termos de exportações, para nós desenvolvermos a nossa actividade. É certo que isto implica uma evolução. Nem quero falar aqui do Estado nem daquilo que o Estado tem de fazer. Queria falar mais dos empresários: está a haver um trabalho neste campo, mas é preciso aprofundá-lo, ter uma visão alargada dos mercados, trabalhar - como ali chamei a atenção - mais para fora da Europa, ter o Mundo como perspectiva, evoluir na cadeia de valor e em particular na distribuição internacional.

Nas empresas portuguesas há muitos casos em que nos vêm comprar em vez de irmos nós vender. É fundamental passarmos a vender, melhorar a qualidade de investimento, dar valor às pessoas, que eu tenho falado muito aqui dos recursos humanos que são um activo fundamental das empresas, mas há muitas empresas que não lhes dão ainda valor suficiente. Depois, apostar na inovação e no conhecimento, promover alianças e integrar redes de empresas. Portanto, há mercados, há condições para as empresas fazerem um trabalho ainda melhor do que têm feito nos últimos anos apenas dentro da estrutura produtiva actual.

Garantir qualidade e respeitar compromissos é um aspecto fundamental para os empresários portugueses. Deve-se também ter em conta as mudanças profundas que estão a ocorrer na ordem económica mundial. Como eu disse, vivemos uma época de oportunidades extraordinárias, por exemplo a afirmação dos países emergentes cria oportunidades para as empresas portuguesas; a aposta na inovação e produtividade em alguns mercados, que leva a repensar fornecedores e que cria também uma oportunidade para as empresas portuguesas; a generalidade das redes empresariais de que vos falei há pouco e tudo o que é ambiental, também aqui voltam a criar oportunidades.

Vejam ali o que pus para a Logoplaste: temos oportunidades de reduzir o peso das embalagens, melhorar a capacidade logística, utilizar materiais recicláveis e renováveis, estabelecer unidades integradas, e portanto, cada uma destas áreas que está a mudar no Mundo cria oportunidades para ajudar a generalidade das empresas portuguesas.

Duas notas mais: se há algo extraordinário resultante do programa de ajustamento económico no país tem a ver com a capacidade exportadora portuguesa e com a evolução da balança de pagamentos, nomeadamente a balança comercial e a balança externa. Vejam que Portugal exporta 60 mil milhões de euros - como eu dizia há pouco - para algumas das economias mais competitivas do Mundo e que ao longo destes anos tem sido sistematicamente a base da alteração e do potencial crescimento que o país tem pela frente. Vejam que 5% do crescimento das exportações são três mil milhões de euros. Para terem uma ideia: a AutoEuropa exporta dois mil milhões de euros e a TAP também.

Desta forma, o sector empresarial tem tido uma nova dinâmica e um crescimento muito significativo. É preciso chamar a atenção, pois também não se valoriza este crescimento das exportações: 30% são de Serviços, 15% Máquinas e Equipamentos, 40% Bens de Média ou Alta Tecnologia. Vejam estes números, que penso que vale a pena: o saldo da balança de Bens e Serviços foi positivo em 2012, será mais positivo em 2013 e era negativo em 12 mil milhões de euros em 2010. A balança corrente terá um saldo de 4,5% neste ano e em 2010 era negativo em 9% do PIB que correspondem praticamente a 16 mil milhões de euros.

Nós recuperamos em três anos 16 mil milhões de euros. Portanto, este é um aspecto que nos faz olhar para o futuro com um optimismo diferente daquele com que normalmente olhamos.

Em termos de indicadores económicos recentes tem-se procurado desvalorizar politicamente os mesmos. Ainda hoje, como dizia o INE acerca do índice de confiança dos consumidores e dos agentes económicos todos estão extremamente positivos, nomeadamente no sector da Construção, da Indústria, dos Serviços e do Comércio. O desemprego caiu no 2º trimestre. Obviamente, há quem diga que são sobretudo factores estruturais, mas analisando os números, um dos factores fundamentais para a queda do desemprego é a Agricultura e os Serviços, mas sobretudo a Agricultura que é onde são criados a maioria dos 72400 empregos. Há uma revolução, hoje, a acontecer em termos agrícolas.

Como nunca visto, estão-se a criar empresas em Portugal, sobretudo jovens. No primeiro trimestre foram criadas mais de 20 mil empresas, mais do que o número das que fecharam e o PIB cresceu mais do que 1,1% e muito provavelmente irá crescer mais no próximo trimestre. Deixem-me terminar respondendo à questão do Carlos. Acho que o país vive uma profunda crise, quer económica, quer financeira, quer social. Acima destas crises todas - e tem a ver muito com a nossa maneira de ser -, vivemos uma crise da alma, temos uma profunda descrença, uma falta de confiança nas nossas capacidades e no futuro. Os portugueses são pessimistas e fatalistas, o que se acentua nos momentos de dificuldades.

Mas, na minha perspectiva, sobretudo olhando para o que vos apresentei, nós somos muito melhores do que pensamos, temos muito mais potencial do que aquilo que acreditamos ser possível. Penso que isto se aplica ao mundo empresarial, à Economia, o que D. Manuel Clemente referiu quando lhe foi atribuído o prémio Pessoa - e aqui respondo à pergunta do Carlos: o melhor de Portugal pouco aparece e não há geralmente nos noticiários.

Há dezenas e mesmo centenas de empresas como a Logoplaste no país. Como dizia há pouco, fala-se de 60 mil milhões de euros de exportações, mas tenham a noção que isto nos mercados mais competitivos do mundo, como a Alemanha e a França, onde há milhares de empresas. Quando se pergunta porque é que crescem as exportações, desvaloriza-se logo dizendo que é a GALP, que são os produtos petrolíferos, mas não é, o crescimento está generalizado a todos os sectores.

Na Agricultura, nos Serviços, nos Transportes, todas as exportações têm crescido. A razão do reequilíbrio do saldo da balança comercial não tem a ver com as importações, mas sim com as exportações. Isto deve-se a decisões de milhares de empresas e de pessoas, que perante as dificuldades têm forças acrescidas e que têm sido a base, anonimamente - como disse o D. Manuel Clemente -, desta mudança que o país está a conhecer. São aqueles que vão estar na base da Economia que vai crescer e enriquecer, no 2º trimestre seguramente e a partir do próximo ano.

Muito obrigado.

[APLAUSOS]

 
Carlos Coelho

Vamos começar com o ciclo de perguntas: os primeiros grupos são o Castanho e o Verde a quem agradeço o convívio simpático na mesa durante o jantar.

Passo a palavra ao Gonçalo Melo e à Cátia Coutinho.

 
Gonçalo Melo

Boa noite. Sou estudante de Engenharia e Gestão Industrial e, por tal, fiquei muito interessado. Estudo ao lado do único departamento de polímeros deste país, que admite 50 alunos para uma Engenharia tão restricta.

A minha pergunta vai um bocado nesse sentido e pelo estudo da Engenharia neste país. Gostava de saber quantos desses trabalhadores que nos mencionou são engenheiros portugueses e se acha que existe falta de algumas áreas de Engenharia em detrimento de outros cursos com muito menor empregabilidade neste país.

[APLAUSOS]

 
Cátia Coutinho

Boa noite, antes de mais quero saudar e felicitar o Dr. Alexandre Relvas, em nome do grupo Verde, pela apresentação fantástica com que nos presenteou.

Em 2006, dirigiu a campanha presidencial do Prof. Dr. Aníbal Cavaco Silva, passando a ser conhecido pelos Média como o "Mourinho de Cavaco”. É um homem de negócios com um pé na política. Acha que o facto de ser um homem de negócios foi importante para ter construído uma campanha política vencedora?

Obrigada.

[APLAUSOS]

 
Alexandre Relvas

Começo por responder à pergunta do Gonçalo: vou-lhe ser sincero, não sei quantos engenheiros temos a trabalhar na Logoplaste, mas devemos ter dezenas. Queria sobretudo responder à sua segunda questão: do ponto de vista de contratação de jovens engenheiros portugueses nunca sentimos qualquer limitação.

Existem de várias universidades, por exemplo na engenharia de polímeros tanto a Universidade Nova como a do Minho têm uma formação de quadros de grande qualidade. Muitos deles temos sistematicamente contratado dessas universidades e ocupam lugares de relevo na Logoplaste. Têm intervenções que valorizamos muito. Sentimos que há uma excelente formação a esse nível. Nas outras áreas da Engenharia não posso responder pois não conheço, não sei se se sente. Mas na área que a nós interessa há uma formação significativa e as pessoas são bem formadas, aliás como na generalidade dos cursos de Engenharia.

Penso que há uma formação de grande qualidade e devo dizer que, hoje, se pudesse voltar atrás e tivesse 19 ou 20 anos, sabendo algumas coisas que sei, tinha-me formado em Engenharia. Depois é que tirava o Mestrado, porque valorizo fortemente, quem queira trabalhar em termos industriais, ter uma formação forte de Engenharia e por muito que nos forcemos é extremamente difícil ter a mesma formação de quem esteve aqueles quatro ou cinco anos numa formação intensa de áreas de Engenharia.

Ía aproveitar a segunda questão para pôr uma nota num aspecto que não referi há pouco. Onde há carências, hoje, em Portugal não tem a ver com a formação em termos superiores, mas sim ao nível do Secundário. Há pouco quando dizia que este é um país que trata mal os seus filhos é porque quando olho para os números do Secundário vejo que é uma realidade que vai afectar profundamente o futuro deste país.

Ora um país que tem ainda hoje uma situação em que apenas 50% dos jovens acabam o Ensino Secundário e há um abandono escolar que de acordo com as estatísticas atinge um terço dos jovens, vai ter ainda uma geração fortemente marcada por esta situação. Por isso, penso que o grande esforço que é preciso fazer nesa nação tem que ver com o Ensino Secundário. Se eu tivesse poder neste país, uma das áreas pelas quais lutava e penso que é aquela que mais profundamente podia mudar a nossa realidade económica e social, era termos os mesmo objectivos que tem a União Europeia: 95% dos jovens têm de acabar o Ensino Secundário e o abandono escolar não pode ser mais do que 5% ou 6%. Isto pode ser fortíssimamente marcante

Quando olhamos para a realidade dos jovens em Portugal há uma profunda injustiça e este país devia repensar o contrato intergerações. Há uma profunda injustiça por causa da Segurança Social, pela dificuldade de encontrar um primeiro emprego, a pobreza na juventude é muito mais marcante do que a pobreza média do país, mas um dos factores mais marcantes pelos quais se devia lutar tem a ver com o Ensino Secundário. E não é só conseguirmos que agora os futuros jovens atinjam o 12º ano, pois há 40 mil ou 50 mil jovens por ano que ficaram pelo caminho.

Há centenas de milhares de jovens que ficaram pelo caminho e que deveriam ter uma segunda oportunidade, que não deve ser as "Novas Oportunidades”, mas devem ter uma segunda oportunidade de reingressar na informação para terem mais capacidades de entrarem no mercado de trabalho. Esse é o que penso ser um desafio fortíssimo e, portanto, aproveitava a sua questão para deixar esta mensagem.

Se acho que o facto de ser um homem de negócios contribuiu para vencer a campanha? Qualquer que seja a capacidade de um director de campanha é irrelevante numa campanha, pois o que é decisivo é a qualidade do candidato. Nós tínhamos um grande candidato, como hoje temos um grande Presidente. O que foi determinante na vitória de 2006 foram a experiência, a personalidade, as capacidades invulgares do Prof. Cavaco Silva. Foi isso que trouxe a vitória.

[APLAUSOS]

Porque depois do trabalho de campanha os números impressionavam, tendo sido uma campanha totalmente voluntária trabalharam centenas de pessoas em todos os municípios do país. Muitos eram jovens, outros mais velhos, mas centenas e centenas de pessoas e foi a generosidade delas que permitiu potenciar a vitória naquela altura. Mas o que foi fundamental foi a capacidade e o perfil do Presidente e no meio daqueles milhares de pessoas a pessoa menos relevante foi seguramente o director de campanha.

 
Carlos Coelho
Além da integridade ficamos-lhe a conhecer também a qualidade da modéstia. Passamos para o segundo lote de perguntas: os grupos Cinzento e Bege, passando a palavra a Bruno Moreira e a Liliana Baptista.
 
Bruno Daniel Moreira

Boa noite a todos. Caro senhor, gostaria de lhe fazer uma pergunta acerca de uma injustiça que acontece em Portugal, uma vez que o senhor tem uma vasta experiência como empresário e como político como já exerceu funções.

Falo da situação da liberalização do mercado português à economia asiática. Existe uma desigualdade muito grande em relação à competitividade dos produtos, além da diferença de impostos que ocorre entre os produtos; esse mercado está totalmente liberalizado destas contribuições ao contrário das empresas portuguesas, logo, comparativamente estão em pé de desigualdade e isto é uma grande injustiça para as empresas portuguesas.

Como o senhor referiu, as empresas portuguesas são muito fortes, lutadoras, acreditam no país, no entanto parece que muitas vezes fazem com que estas vão por um caminho errado e esmoreçam tornando o país cada vez mais pobre.

Perguntava-lhe, então, qual seria a solução para as empresas portuguesas contrariarem esta situação.

Muito obrigado.

[APLAUSOS]

 
Liliana Batista

Muito boa noite. Antes de mais, em nome do grupo Bege gostaria de agradecer a sua presença neste jantar.

Portugal não tem sido um bom anfitrião para investimentos estrangeiros; uns queixam-se da incerteza fiscal, outros da lentidão da justiça. Como o Dr. Alexandre Relvas disse, existem vantagens em investir em Portugal e devemos ser optimistas. Assim, a minha questão seria: qual é a sua opinião sobre a receita ideal para angariar mais investimento estrangeiro em Portugal em termos da política económica.

[APLAUSOS]

 
Alexandre Relvas

Sobre a liberdade de vender em Portugal produtos internacionais, tenho aqui uma questão de princípio: tenho orgulho em que sejamos um país totalmente aberto e que praticamente não haja direitos sobre produtos que são importados, pois isso também cria oportunidades para o nosso país, há correspondência como normalmente noutros mercados.

Penso que haja muito mais queixas pontuais do que um problemas generalizado como deu a entender na sua pergunta em relação à importação de países como a China, Vietname, Brasil ou de outros mercados. O que penso que uma empresa tem de fazer é: hoje há uma organização que regula o comércio mundial e se tenho fundamentação de que há questões ambientais que dão bases de competitividade diferentes num mercado em relação às restrições que nós temos, ou se há dumping , ou seja, uma empresa que está a vender abaixo do preço de custo - essa é uma queixa frequente -, nós podemos reclamar na União Europeia através da Organização Mundial do Comércio (OMC) e é altamente eficaz em criar uma barreira a produtos específicos ou intervir junto das autoridades de outro país.

Mas devo dizer que esta é uma questão que não tem relevância globalmente, é muito pontual e não há de forma generalizada, inclusive se falar com as associações empresariais, queixas de concorrência desleal por parte de produtores de outros países. Há questões pontuais que têm de ser tratadas pelo quadro legal e de maneira nenhuma Portugal deve tomar medidas isoladas.

Portanto, fazemos parte da União Europeia, somos membros da OMC e é nesse âmbito que temos de trabalhar. É uma questão onde tivemos intervenções em algumas queixas relativamente a dumping de produtores de outras regiões e nós, Logoplaste, temos intervido a defender os produtores das outras regiões, porque muitas vezes pensamos que são produtores europeus que querem fechar o mercado para poderem praticar preços que a concorrência internacional como a dos países da Ásia não os permite colocar.

A questão da competitividade asiática foi muito marcante durante um período, nomeadamente nos têxteis, mas actualmente nos mercados há muitos factores que são considerados por quem trabalha com fornecedores asiáticos. Têm preços muito competitivos, mas depois há garantia de abastecimento, qualidade, proximidade cultural, enfim, um todo conjunto de factores que dão competitividade a empresas como as nossas. Portanto, penso que não é um factor relevante e que não é isso que afecta a Economia portuguesa. Temos de encontrar outras razões que não essa.

Liliana, vou pedir-lhe uma coisa que tem a ver com o que eu disse há pouco: quando falar do seu país não pode começar por dizer que "Portugal não tem sido um bom anfitrião para os investidores portugueses”. Não pode dizer isso de Portugal, pois isso não é verdade. É que nem é opinião, isso é a nossa maneira de ver o Mundo. Pergunta a alguém em conversa e vê que os Portugueses aprenderam o hábito de dizer "não” e depois começam a dizer a frase e muitas vezes é para dizer que sim, concordar com o que estava a ser dito à partida. A valorização que fazemos deste país em tudo é negativa. E não é verdade, nós somos um excelente anfitrião de investimento estrangeiro. A generalidade das empresas que estão instaladas em Portugal estão satisfeitas, havendo pouquíssimas empresas a sair do país e muitas vezes quando o fazem é por factores que têm a ver com a sua cadeia de valor e não têm nada a ver com a realidade e condições que este país oferece.

Temos desafios? Temos. Precisamos de um ambiente político mais estável, que apresente perspectivas de futuro - os tais consensos de que se tem falado tanto -, precisamos de factores de competitividade se calhar mais fortes, como o esforço que está a ser feito em termos do IRC e precisamos de uma legislação eventualmente mais flexível nalguns aspectos. Tudo isso podia de facto potenciar, mas nós já somos um excelente destino de investimento estrangeiro. Vai ver o que tem acontecido nos últimos anos e há múltiplas empresas internacionais - com certeza que o Pedro Reis ontem vos deu aqui exemplos - que estão estabelecidas em Portugal e estão satisfeitas com o país.

Agora, temos de nos esforçar para criar um contexto mais favorável, sim, mas não apenas para o investimento estrangeiro, mas é também para nós. Queremos que todas as empresas em Portugal trabalhem num contexto mais favorável e é esse o esforço que tem sido feito nos últimos anos. Aí, também devo dizer que há muitas áreas em que é necessário esforço, não se esqueçam de que falei há pouco nos empresários, mas também é preciso esforço por parte dos poderes públicos. No entanto, claramente, muito do êxito da competitividade tem de nascer dentro das empresas, com alterações da filosofia de gestão e das estratégias empresariais.

[APLAUSOS]

 
Carlos Coelho
Terceira ronda de perguntas: os grupos Rosa e Encarnado com o João Carlos Fernandes e Joel Araújo Alves.
 
João Carlos Fernandes

Boa noite. Em nome do grupo Rosa, antes de mais, quero saudar o Dr. Alexandre Relvas.

Gostaria de saber qual pode ser o contributo do Banco Central Europeu (BCE) para estimular o nosso sector bancário com intuito de agilizar o acesso ao financiamento por parte das PME, abrindo-se assim estas à internacionalização da Economia.

Obrigado.

[APLAUSOS]

 
Joel Araújo Alves

Boa noite, Dr. Alexandre Relvas, antes de mais deixe-me agradecer-lhe em nome de todo o grupo os testemunhos brilhantes que aqui nos deixou e de facto numa época em que os Portugueses olham para a própria Economia com tanta desconfiança só pode ser reconfortante ouvir a opinião e o testemunho de alguém que continua a singrar lá fora, a ser vanguardista nos mais diversos sectores e sobretudo a provar que - como diria o nosso Sá Carneiro - "Portugal não é isto nem tem de ser isto”.

Muito obrigado.


[APLAUSOS]

A minha pergunta surge na sequência de uma apresentação que pude presenciar em Braga aquando da Plataforma para o Crescimento Sustentável do Dr. Jorge Moreira da Silva e onde o Dr. José Mendes, vice-reitor da Universidade do Minho, afirmou: "o turismo é o futuro das regiões sem futuro”.

Ora, tendo em conta que o Dr. Alexandre Relvas já assumiu um papel de relevo na área do Turismo, nomeadamente no Governo do Prof. Aníbal Cavaco Silva, onde foi Secretário de Estado, pedia-lhe que comentasse estas declarações e que nos dissesse se entende que "o Turismo é mesmo o futuro das regiões sem futuro”, ou se porventura pode ser, a par das exportações, o motor da nossa Economia.

Muito obrigado.


[APLAUSOS]

 
Alexandre Relvas

Não sou modesto como o Carlos dizia há pouco, mas em alguns casos tenho mesmo de ser modesto. Não me vou pôr aqui a falar do BCE porque não tenho conhecimentos para falar de política monetária europeia, tenho conhecimentos generalísticos e tal como muitos comentadores ia apenas repetir vinte coisas que li e reafirmar mais meia dúzia de coisas que ouvi.

Portanto, não me vou pôr aqui a falar disso, mas gostava de dizer - agora partindo de experiência - que as empresas portuguesas estão fortemente endividadas. Não sei estatísticas de cor, mas quando se analisam as nossas empresas em comparação com outras internacionais temos um endividamento muito forte. Esse é um factor extremamente debilitante para as empresas portuguesas e que limita a sua competitividade.

Da conversa que sinto com a Banca e um dos grandes sucessos dos últimos anos em Portugal foi a reorganização do sistema bancário perante esta crise económica e financeira que vimos com relativa estabilidade. Os grandes bancos portugueses são bancos sólidos e com capacidade de intervenção. Uma das questões que se põe para o sistema bancário é que esta situação das empresas portuguesas limita a própria capacidade de intervenção do sistema bancário. Portanto, não sou crítico do sistema bancário dizendo que ele não dá crédito à Economia; não dá crédito porque muitas empresas não têm capacidade para obtê-lo.

Daí julgar importantes algumas das iniciativas recentes, nomeadamente das primeiras apresentadas pelo António Pires de Lima - que foi com certeza já preparada pelo ministro anterior -, que teve a ver com a capitalização das empresas, criando linhas que aumentam os capitais próprios das empresas e com isso dar-lhes mais solidez financeira para que com ela possam ter mais recurso à Banca. Mas é um problema que vamos ter nos próximos anos: necessidade de financiar projectos de desenvolvimento e a dificuldade de ter acesso a esses financiamentos porque se tem situações financeiras mais debilitadas.

Qual é a esperança que hoje tenho? Que todo este discurso negativista que hoje prevalece mude radicalmente e não estou a falar só da política, mas sim de nós todos. Quando agora começamos a dizer que os índices de confiança dos consumidores estão a melhorar, o desemprego caiu, a Economia cresceu, depois ouvimos dizer que na Alemanha os indicadores de crescimento foram revistos em alta, tudo isto vem criar um ambiente novo e uma esperança mais forte. Nesse ambiente novo acredito que a possibilidade de financiar projectos de investimento seja mais fácil do que num ambiente negativo.

Mas vamos ter ainda nos próximos anos esta situação de múltiplas empresas dizerem que têm dificuldade em obter financiamento, pois é algo estrutural que vai ter de ser a própria vida das empresas e a sua capitalização que vão permitir que passem para um estádio em que possam ter acesso à Banca com mais facilidade. Portanto, não sou crítico da Banca, em absoluto, de não dar crédito às empresas, até sinto agora - eu e a generalidade dos empresários -, que da parte de alguns bancos até há activamente uma procura de projectos de investimento e de dar crédito à Economia.

Quanto à segunda questão, às vezes trata-se de ser uma forma de dizer mas neste caso tem muito sentido. Penso em muitas regiões como esta, no Interior, que estão fora dos circuitos da Indústria, dos Serviços e elas só têm duas opções: uma revitalização da agricultura, que penso estar agora a decorrer uma revolução em termos agrícolas com a criação de emprego, o recurso à PRODER e os que investimentos têm sido feitos. O crescimento das exportações em termos agrícolas mostra que está a haver uma revolução e que se deve recorrer à Agricultura e ao Turismo.

O Turismo, hoje, para estas regiões é um factor de esperança, porque podem apresentar produtos alternativos em relação àquilo que são as grandes ofertas turísticas como o Sol e praia e até o turismo cultural, e nesse sentido eu acredito. Não se esqueçam de um factor principal: hoje, 30% da exportação portuguesa são Serviços, a principal exportação portuguesa não é Máquinas e Equipamentos, mas sim 16% ou 17% que é o Turismo. Portanto, o grosso da exportação portuguesa é Turismo. Muita da alteração económica do último trimestre, que vai potenciar os próximos trimestres, tem a ver com o sector do Turismo, é mais estrutural do que os analistas apontam, pois tem a ver com alguma evolução nos mercados que não vão evoluir favoravelmente como as situações no Egipto e no Mediterrâneo a bacia árabe. Assim, cria-se espaço para o nosso estabelecimento junto de outros mercados.

Mas, voltando à sua questão, acredito que para algumas zonas é um factor de esperança e que se deve apostar no Turismo. Vejo múltiplas autarquias, mais uma vez de todas as cores partidárias, a fazer um trabalho excelente em termos da tentativa de criação de atracções que permitam o desenvolvimento do Turismo. Portanto, acredito e acho que é de facto para essas regiões uma das únicas alternativas e que é uma alternativa real. Hoje há vontade de ir para zonas que tenham um número limitado de visitantes; um comum paradoxo e extraordinário em termos de turismo, é que quanto mais há turistas mais as pessoas querem estar em zonas pouco turísticas. Ou seja, cada turista quer o seu espaço. São milhões, mas cada um quer ter o seu espaço.

Uma coisa extraordinária que nós temos, por exemplo, é o Alentejo, que é um terço de Portugal e tem apenas 5% da população. Temos condições únicas para oferecer a quem queira procurar a identidade do país, os valores culturais, a gastronomia, paisagens, passeios a pé… Temos de valorizar e esse é o trabalho que está a ser feito em termos autárquicos e bem feito na generalidade dos concelhos do país.

[APLAUSOS]

 
Carlos Coelho
Temos agora dos grupos Amarelo e Azul o João Figueiredo e o Carlos Alberto Miranda.
 
João Figueiredo

Boa noite a todos. Queria cumprimentar o Dr. Alexandre Relvas e em seu nome a restante mesa. Em primeiro lugar, quero felicitá-lo pelo seu percurso de sucesso que é um verdadeiro exemplo para qualquer empresário que ambicione um sucesso internacional e levar o nome de Portugal pelo Mundo.

Confesso que se tornou difícil arranjar uma pergunta, dado tão bons indicadores que apresentou, que até parece que antecipou qualquer tipo de questão que pudesse ser levantada. A minha pergunta surge então precisamente por isso: se há tanto optimismo, tanto indicador, tanto esforço para que as empresas tenham sucesso, confesso - e espero que não leve a mal a piada - que quando vi tanto optimismo em si, por momentos vi o próximo rosto do Impulso Jovem, curiosamente apresentado pelo antigo ministro Miguel Relvas.

O que faltará se os indicadores são assim tão bons e há tantas condições? O que faltará aos jovens empresários para porem em prática essas condições? Será o medo? Será falta de apoio da Banca? Será o receio de endividamento? Era esta a minha questão, obrigada.

[APLAUSOS]

 
Carlos Alberto Miranda

Muito boa noite a todos. Em meu nome pessoal e do grupo Azul quero agradecer e saudar a presença do Dr. Alexandre Relvas nesta UV, ou como foi referido pela minha colega "o Mourinho de Cavaco”.

Minhas amigas e meus amigos, considero que também temos de saudar o Mourinho da formação política em Portugal que é o nosso reitor Carlos Coelho.

[APLAUSOS]

Dr. Alexandre Relvas, tenho acompanho com grande admiração o seu percurso empresarial e também a sua vida política, quer no PPD/PSD, quer como Secretário de Estado do Turismo e também no cargo que desempenhou no Instituto Sá Carneiro. A minha questão tem que ver com a fiscalidade e o seu impacto na competitividade das empresas portuguesas.

Recentemente, a Comissão para a Reforma do IRC, liderada pelo Dr. António Xavier, apresentou a sua proposta de reforma ao Governo. Parece-me que esta proposta vai no sentido correcto, contudo se o PS vencer as próximas eleições legislativas corremos o risco de as principais propostas desta reforma que passam, por exemplo, pelo crédito fiscal ao investimento e pela redução da taxa nominal de imposto, possam ser alteradas.

Assim, para qualquer empresário a garantia de estabilidade é um valor fundamental. Nesse sentido considera que esta medida para ser realmente eficaz o PP D/PSD e o CDS/PP deveriam propor ao PS um acordo sobre esta medida em concreto que garanta que a redução da taxa nominal do IRC será duradoura? Isto para que ela vigore durante muitos anos e assim se garanta a estabilidade para os empresários.

Muito obrigado.

[APLAUSOS]

 
Alexandre Relvas

Sobre o optimismo, o que apresentei aqui foi um conjunto de indicadores e uma perspectiva objectiva da realidade portuguesa. Aqueles indicadores são a realidade. Agora, a realidade pode ter duas leituras: uma de esperança, de se olhar do ponto de vista positivo, valorizar o esforço, saber que há desafios, mas apesar de tudo ser olhado como algo que abre novas portas. Nessa visão, ela própria é geradora de entusiamo, de mais optimismo, de novas atitudes, de uma perspectiva que depois passa a palavra e é uma perspectiva nova de futuro. Depois, há uma outra que é prevalecente no nosso país, que é perante os mesmo indicadores em que a Economia cresce 1,1% - isto, acho que devia ser festejado - dizer que a única razão é porque o Tribunal Constitucional tomou as medidas que tomou, ou que nada significa sobre o que vai acontecer no próximo trimestre ou no próximo ano, ou que cresce porque se tomou uma determinada medida, ou porque é Verão e há factores conjunturais.

Não vejo a vida assim. Vejo a vida, olho-a objectivamente e procuro tirar o que é positivo, o que dá esperança, o que me permite olhar para o futuro com mais entusiasmo. Portanto é nessa perspectiva que fiz a minha apresentação. Sinto que todos nós temos conhecimento de que este país defronta desafios extraordinários, mas é preciso valorizarmos aquilo que é bom. Por isso, peço imensas desculpas a quem fez a pergunta por não ter passado 50% da minha apresentação a dizer mal do país e os outros 50% ter dito uma ou duas notas.

Sou assim e farei sempre as apresentações olhando para o Futuro. Não me sinto a vender nenhuma falsa esperança. Esta é a realidade e é sobre ela que temos de construir o futuro. Estes indicadores são objectivos. Saíram hoje e por muito já tenham sido todos desvalorizados politicamente, os consumidores acham que o país está melhor agora do que estava no mês passado, os empresários da Construção, da Indústria, dos Serviços, do Comércio, acham que estamos melhor agora do que estávamos no trimestre passado. Isto é objectivo. Pode-se dar várias desculpas e explicações, mas isso não interessa, não interessa qual é a razão, apenas que de facto está a acontecer.

Penso que isso por si só potencia os movimentos e depois ainda mais se todos tivermos uma perspectiva positiva. O apelo que faço é que valorizemos o que é importante neste país, sem deixar de falar e tratar os desafios - falei aqui deles, nomeadamente do Ensino Secundário, disse que este país trata mal os seus filhos. Quando é preciso criticar é preciso ser frontal, mas é necessário valorizar aquilo que tem valor. Como dizia ali: nós temos muito mais valor do que pensamos, somos muito melhores do que aquilo que acreditamos e ninguém me vai fazer deixar de falar assim.

[APLAUSOS]

Estou de acordo e penso que tocou num ponto fundamental sobre a questão dos jovens. Sem criticar as juventudes partidárias e a nenhum de vocês, pois no meu tempo também não fiz isso, ou seja, com esse à vontade de quem no seu tempo também não teve nenhuma intervenção, volto ao ponto de que fiz referência. Têm de começar a falar mais do contrato intergerações em Portugal, dos vossos direitos, porque quando se avaliam hoje as decisões políticas do Governo, como a convergência do sistema da Segurança Social, quando o Tribunal Constitucional decide sobre muitas matérias, quando politicamente são tomadas decisões que têm que ver com os direitos das gerações actuais, só se fala destes direitos e não dos vossos direitos daqui a 20 ou 30 anos.

Por isso, se não são vocês a cuidar deles, vão herdar um país em que vão estar mais 30 ou 50 anos a pagar as dívidas. A não ser que queiram deixar ainda mais dívidas aos vossos filhos. Portanto, têm de lutar pelos vossos direitos e tem que haver politicamente os direitos dos jovens, nomeadamente quando se fala em Segurança Social. Esses direitos têm que ser tidos em linha de conta. Toda a gente está a defender os valores que são pagos actualmente, mas ninguém está a ver os que vão ser pagos por vocês ao longo dos próximos anos nem a defender a vossa pensão daqui a 30, 40 ou 50 anos.

[APLAUSOS]

Assim como quando se fala do endividamento actual, quando há partidos políticos, sobretudo da Esquerda, que falam da dívida actual para atirarem-na para o futuro ou não a pagar. Mas é sobretudo para a atirar para o futuro que os credores não a vão deixar pagar, mas atirá-la para o futuro é atirá-la para cima de vocês. É uma geração inteira a viver à conta das gerações futuras. Isto visto friamente, a situação que o país hoje tem são pais a viverem à conta dos filhos e quem tem de pagar as contas que foram eles que fizeram e são eles que estão a beneficiar são os próprios pais e não os filhos, pois foram eles que as fizeram.

[APLAUSOS]

Há sempre um contrato implícito em todas as gerações que estão num país em certo momento. O contrato hoje é profundamente injusto em relação em vocês. Fala-se da legislação do trabalho e dos sindicatos, mas é a vocês que defendem ou aos que têm emprego hoje? Ninguém está preocupado com os cerca de 140 mil jovens que não têm emprego, estão preocupados com os que têm emprego. Mas um mercado mais flexível, mais dinâmico, cria oportunidades para vocês. Haveria de certeza menos de 40% de desemprego em Portugal, no jovens, se o mercado fosse mais aberto, mais dinâmico e mais flexível.

[APLAUSOS]

Todas estas decisões têm implícito um contrato intergerações que é profundamente injusto e há uma geração inteira que está a decidir em interesse próprio contra vocês, não tendo em linha de conta os vossos interesses. Por isso, politicamente isto deviam ser factores que deviam estar na agenda trazidos por vocês, pelas juventudes partidárias, porque se as trouxessem para a agenda se calhar condicionavam muitas das decisões políticas actuais. Porque o problema já não é só de convergência de sistema de pensões, ou de defender os empregados, mas sim defender os que estão actualmente e os que têm direitos implícitos e também querem exercê-los no futuro, que são vocês.

Concordo, portanto, com o que disse há pouco, obviamente com uma palavra de optimismo, mas hoje em relação aos jovens, penso que eles têm de ser trazidos para a agenda política com um novo programa, com novas ideias e há uma coisa que podem ter a certeza: ou são vocês a colocarem na agenda política, ou quando falam em pobreza fala-se da pobreza genérica do país e nunca da pobreza dos jovens que é maior que a pobreza geral do país.

Quando se fala em desemprego fala-se do desemprego geral do país, dos 16% ou 17%, mas tem de se falar do dos jovens que é muito maior que a média do país. Quando se fala de formação média tem de se falar nos jovens e das novas oportunidades que têm de ser dadas aos jovens. São vocês que têm de pôr na agenda.

[APLAUSOS]

Depois, sobre a questão do sistema fiscal estou totalmente de acordo. Era fundamental que os principais políticos e sobretudo o PSD, o PP e o PS, em matérias como a revisão do sistema fiscal cheguem a um consenso para garantir estabilidade do sistema fiscal. Quando a Liliana há bocado perguntava sobre factores que sejam negativos ou possam desvalorizar a opinião dos investidores estrangeiros, um dos factores é precisamente haver mudanças constantes do quadro fiscal, ou do quadro administrativo.

Portanto, podermos garantir um sistema fiscal estável para os próximos cinco ou dez anos é decisivo. Estou seguro que vai prevalecer o bom senso e que vai haver consenso quando for apresentado e discutido no âmbito da Assembleia da República. Mas tem de haver bom senso de ambas as partes: nós também temos de querer o diálogo e da parte do PS tem de haver disponibilidade e abertura para numa matéria como esta haver uma capacidade de chegar a um entendimento com o PSD.

[APLAUSOS]

 
Carlos Coelho

O Dr. Alexandre Relvas recordar-se-á que temos uma norma de cortesia de dar a última palavra ao nosso convidado. Portanto, antes de passar para a última ronda de perguntas, é a minha oportunidade para lhe agradecer a presença aqui, as respostas fantásticas que nos deu e seguramente as duas que ainda nos vai dar.

Para vos transmitir um recado do Paulo Colaço, dizer-vos que a gala do boneco se iniciará às 23h30 lá em baixo na sala de aula. Para a última ronda de perguntas, os grupos Roxo e Laranja, tem a palavra a Patrícia Fernandes e o João Diogo Carlos.

[APLAUSOS

 
Patrícia Fernandes

Antes de mais, não poderia deixar de saudar o Dr. Alexandre Relvas pela sua presença na maior escola de formação política do nosso país, a UV.

A pergunta do grupo Roxo é a seguinte: como vê o futuro da Ciência e Inovação em Portugal com os constantes cortes de financiamento em Investigação e Desenvolvimento (I&D) que acabam por influenciar negativamente a criação dos spin-offs e também o crescimento económico?

Obrigada, boa noite.

[APLAUSOS]

 
João Diogo Carlos

Boa noite. Em nome do grupo Laranja, queria agradecer a presença do Dr. Alexandre Relvas. Como sabe, retiraram do plano curricular do 12º ano a disciplina da Área de Projecto. Qual é a sua opinião acerca desta medida, sendo que é uma disciplina que promove a actividade em grupo e o espírito de equipa, preparando desde cedo os jovens para terem sucesso na relação que têm com os seus colegas de trabalho.

[APLAUSOS]

 
Alexandre Relvas

Vou ser telegráfico sobre estas duas perguntas porque sobre a Área de Projecto não tenho filhos nessa idade e, portanto, não conheço suficientemente a matéria. Mais uma vez, não me vou pôr a filosofar sobre essa questão que não conheço e portanto não tenho opinião sobre isso.

Sobre o I&D não estou de acordo com o que disse a Patrícia. O investimento em I&D têm crescido em Portugal. Não tenho as estatísticas, mas globalmente temo-nos aproximado ao longo dos últimos anos e já no âmbito do Governo socialista, na altura por parte do Ministro da Ciência e Tecnologia, um esforço muito grande que depois foi continuado por este Governo e tem vindo a subir. Houve um trabalho de continuidade e tem vindo a subir sistematicamente nos últimos anos. É das áreas em que o país se pode orgulhar.

Portanto, não tenho a mesma perspectiva de que tem sido uma área em que tem caído o investimento em Portugal e os resultados da I&D são também, hoje, conhecidos unanimamente como positivos. Logo, não partilho da sua opinião.

Resta-me agradecer o convite para estar aqui presente. Tenho sempre prazer em estar na UV. Não deixo nenhuma frase minha, deixo antes do D. Manuel Clemente: acreditem na parte do país que não abre os noticiários, que vive anonimamente, mas que nas empresas, nas famílias e nas comunidades, têm vivido esta crise com uma perspectiva de combate. Muitas vezes com sacrifícios extremamente fortes, mas são esses sacrifícios e essa capacidade que têm tido de viver com entusiasmo nalguns casos e no caso empresarial que é a base desta evolução que aqui apresentei tem sido essa força e entusiasmo, e é sobre esse Portugal anónimo que se está a construir o futuro e é nesse Portugal anónimo que acredito que vos vai dar um futuro melhor do que aquele que têm vivido nos últimos anos.

Muito obrigado.

[APLAUSOS]

 
Duarte Marques

Peço desculpa a todos, vamos antecipar a gala do boneco para as 23h20 está bem? Tem de ser. Até já.

FIM