Que papel poderá ter Timor nas instituições internacionais, como a ONU?
Timor-Leste tem tido um papel muito solidário e generoso. Nos últimos 5 anos, Timor-Leste, porque tem tido algumas receitas extra do petróleo e gás, já doou para cima de 10 milhões para países afetados por desastres naturais. E Timor-Leste não discriminou: deu ajuda à Madeira como deu ao Brasil, Chile, China, Austrália, Birmânia, Cuba, Haiti, etc, países ricos, pobres, grandes e pequenos.
Considera que a humanidade, em particular os Países mais ricos têm respeitado e ajudado os Países em vias de desenvolvimento o suficiente para a auto sustentabilidade?
Francamente, eu diria NÃO. O apoio ao desenvolvimento, o chamado ODA, por exemplo, representa uma pequena fracção dos subsídios dados anualmente ao sector agrícola em França. O ODA representa uma fracção extremamente diminuta em relação aos subsídios dados aos Bancos e outras instituições financeiras e comerciais americanas e europeias que foram levadas à bancarrota pela ganância, corrupção e incompetência dos seus gestores. Mas os governos ocidentais dizem sempre que há dificuldades em aumentar o orçamento para os ODA. Algumas excepções: Portugal tem sido um dos países mais generosos e solidários, sobretudo, com Timor-Leste.
Actualmente, em tempo de crise, pensa que valores como o da solidariedade e da igualdade têm sido cada vez mais postos de parte, tanto a nível interpessoal como a nível das relações entre países ?
Em momentos de crise e sofrimento causado por guerras e desastres naturais, as sociedades têm reagido com muita generosidade. Exemplos dessa humanidade vimos nos casos do Tsunami na Indonésia, Japão, Haiti, etc. Acredito ainda na generosidade e solidariedade entre os povos, entre as sociedade.
Tendo em conta o seu percurso exemplar de vida, tendo em conta a experiência que tem sobre a cidadania e os valores primordias para que a vivência em comunidade sejam cumpridos na plenitude, qual é a sua opinião sobre os jovens de hoje e qual é a sua previsão para a juventude num futuro próximo?
Apesar das constantes batalhas levadas a cabo no fim do século passado para que Timor Leste alcançasse a independência terem tido sucesso, a paz e a consertação no país nunca chegou a ter lugar. Podemos explicar esta instabilidade com a falta de uma estratégia de política nacional?
Tendo sido distinguido com o prémio Nobel da paz pela luta pela democratização de Timor-Leste, como viu a atribuição desta mesma distinção a uma UE que apresenta sinais preocupantes de falta de solidariedade entre os povos, e em que é crescente a popularidade de movimentos anti-democráticos?
Durante os anos em que o Dr. Ramos Horta esteve exilado e em que defendeu em todos os tribunais e instituições de mais alto nível, como viver e ver todos os incidentes passados em Timor-Leste, longe do seu País? Como se consegue assimilar e controlar todos os sentimentos contraditórios que existem nessa situação?
Sendo Timor uma jovem democracia, como é que se consegue orientar os jovens para a vivência em sociedade sem cometer excessos e incluí-los activamente na vida sócio-política do país?
Além de todas as suas posições que ocupa na actualidade e de todos os seus anteriores cargos em defesa de Timor-Leste, destacando sobretudo a sua personalidade enquanto timorense, como espera e o que esperar de um fortalecimento da comunidade lusófona na resolução e ajuda dos problemas e conflitos que persistem na comunidade timorense?
Dr. Ramos Horta, como antigo Presidente de Timor Leste, o que é que acha que Portugal e o seu país pode fazer para reforçar cada vez mais os laços económicos, culturais e políticos para uma maior prosperidade futura para os países de língua portuguesa?
Cada vez mais as relações de Portugal com países da CPLP têm vindo a aprofundar-se, no caso de Timor-Leste, que no segundo semestre de 2014 vai assumir a Presidência da CPLP. O que se pode esperar de futuros acordos e negociações com o nosso País?
Neste Timor-Leste dispõe de um fundo de petrolífero com uma capacidade financeira de quase 10 mil milhões de euros. Acha possível este fundo comprar dívida soberana portuguesa ou então, por outra via, investir em Portugal através plano de privatizações?
Pelo seu trabalho conducente a uma solução justa e pacífica para o conflito em Timor-Leste foi escolhido prémio Nobel da Paz, acha que alguma vez haverá paz no continente Africano? O que será necessário para que tal ocorra?
Tendo sido agraciado com o Nobel da Paz em 1996, como foi para si ter de tomar a decisão de apoiar publicamente a invasão do Iraque (do ditador Saddam Hussein) por parte das tropas Anglo-Norte Americanas em 2003?