Que espaço existe para a busca de consensos entre PS e PSD? Acha que em caso de segundo resgate pode haver novo entendimento?
Os dois partidos do espectro governativo têm matrizes ideológicas em parte comuns: são típicos partidos de classe média e que buscam as suas raízes ideológicas na democracia cristã e no socialismo democrático. Esta matriz tem governado o mundo europeu nos últimos 10 anos. A crise recente e o acentuar das posições neo-liberais extremistas têm tornado mais difícil o diálogo entre os dois partidos. O PS vê no PSD um ___ face à sua matriz inicial e o PSD vê no PS uma afirmação do conservadorismo social. Para vencer a crise, é absolutamente necessário reencontrar algumas pontes entre os dois partidos.
Enquanto Ministro da Saúde defendeu a necessidade imperiosa de reformar o Serviço Nacional de Saúde para garantir a sua sustentabilidade e eficiência. Quais são os principais motivos que o levam a rejeitar a possibilidade da reforma do sistema de saúde, abarcar a privatização dos serviços de saúde? Isto é, a prestação dos cuidados de saúde ser assegurada pela iniciativa privada e o estado subsidiar a prestação destes serviços aos cidadãos que comprovadamente não têm condições económicas para pagar?
Desde o início que o SNS tem um mix de público e privado. Neste momento, no que respeita ao financiamento, devemos estar à volta de 76% de público e 24% de privado. No que respeita à prestação, 55% é pública, 45% é privada. A questão aqui é saber se a parte pública de prestação de cuidados deve ser privada. A prestação privada pode ser eficiente e ter qualidade nas patologias repetitivas (p. ex. cirurgia electiva). Num problema complexo, eu recomendo sempre o serviço público porque é lá que estão os mais competentes. É lá que está o ensino e a investigação. E é lá que o Estado português tem concentrado recursos para acudir às situações mais complexas.
Exmº Srº Professor Doutor António Correia de Campos,
Com a falta de verbas disponibilizadas para o Sistema Nacional de Saúde, não devemos temer a perda de qualidade na prestação dos serviços de saúde por parte das entidades do mesmo sistema?
O estado social português apresenta-se numa situação delicada.
Acha que a infelicidade e capacidade de insatisfazer as suas necessidades leva a uma maior propagação de doenças e ao aumento da mortalidade em classes etárias mais baixas?
Caro Prof. Doutor António Correia de Campos, enquanto ministro da saúde foi extremamente contestado. Mas alguns sectores da sociedade consideraram que teve coragem para implementar reformas e contrariar os interesses instalados. Qual a avaliação que faz da sua governação na pasta da saúde?
Considero que, por um lado, é preciso pensar nos paralelos entre a queda da União Soviética, na fronteira leste da Europa, e a queda das ditaduras árabes, na costa sul do Mediterrâneo; por outro lado, o território turco acaba por ser a porta para a Ásia, via Europa.
Nesta medida, considera possível a adesão à UE de alguns países do Norte de África a longo prazo?
Sempre que se fala em relação a cutos / otimização do sistema de saúde surgem argumentos opositórios que ligam diretamente otimização com um pior serviço. Como conseguir fazê-lo sem ultrapassar o limite da deteriorização significativa da qualidade do serviço?
Portugal está a dar os primeiros passos no turismo de saúde. Mas ainda está num estágio muito inicial. Acha que o governo português deveria apostar fortemente neste sector da saúde, até como forma de garantir financiamento e assim assegurar a continuação do Sistema Nacional de Saúde?
Nunca hesitou em reconhecer o carácter e a competência do seu amigo Rui Manchete, ainda que existam discordâncias políticas entre ambos. Sente que existe alguma desonestidade, falta de humildade e bom senso dentro da assembleia, levando muitas das vezes a ataques injustos e pessoais, com algum cariz demagogo, que nada tem a ver com a real competência e trabalho dos deputados / governantes em questão?
A actual crise europeia e do nosso país levou cortes em várias áreas não sendo a saúde excepção. Depois de todo o investimento realizado neste sector e sendo algo essencial à vida, deverá, qualquer estado, efectuar cortes a este nível e também na investigação desta área?
A saúde pública portuguesa mostra-se hoje em dia como um sistema ineficaz. Acha que se devem fazer reformas de modo a melhorar este sector. Se sim, quais?
Manuel da Maia com 82 anos redefiniu de forma brilhante a Baixa-Pombalina. Hoje alguns dos jovens apontam injustamente o dedo à geração que os trouxe aqui, culpando-a do pior e esquecendo tudo o que nos deram. Como cultivar o respeito inter-geracional, uma vez que nunca somos velhos, nem quando morremos? Obrigado
Sendo que o Professor é dos poucos Doutores do nosso país a perceber de economia e administração da saúde, qual é a sua opinião relativamente à privatização do SNS?
Acha que a viabilização do sistema de pensões português passa por uma mudança de paradigma mudando o sistema de contribuições colectivas para um sistema de fundos de capitalização individual?
O que o levou a aceitar o convite de uma Universidade de Verão que é promovida pelo principal opositor do Partido Socialista? Terá sido apenas para contribuir para a formação de jovens cidadãos activos e informados?
Afirmou publicamente que concordava com as 40h semanais de trabalho na função pública, mas "não desta forma abrupta". Assim sendo, de que forma sugere que o mesmo se faça (tendo em conta que devido à crise que nos assola, é urgente tomarmos medidas)?
Caro Prof. Doutor Correia Campos, num país onde a crise já perdura há tanto tempo, com a população desmotivada, cansada de tantas medidas de austeridade, qual é a sua opinião no que diz respeito ao aumento para 40 horas de trabalho semanais na Função Pública?
Como ex-ministro da saúde o que diria aqueles que defendem retirar da constituição da República Portuguesa a garantia de um serviço de saúde "tendencialmente gratuito"?