Sendo o Dr. Jaime Marta Soares um destacado autarca, qual considera que deve ser o papel do poder local (municípios e freguesias) na prevenção dos incêndios florestais?
Se há alguém a fazer, mesmo que pouco, alguma coisa pela floresta portuguesa, são os municípios e as freguesias. A comprová-lo, veja-se a forma e o modo como o próprio Estado trata a floresta que está na sua propriedade. No passado existiu uma Comissão Nacional Coordenadora das Comissões Municipais de Defesa da Floresta, onde se discutiam e definiam propostas concretas de prevenção da floresta. Por má vontade, incompetência ou uma qualquer razão que desconheço, foi extinta. É uma falha que considero de lesa-pátria e que urge colmatar de imediato. Para terminar, cumpre-me dizer que esta Comissão nacional teve como base uma decisão do então PM cavaco silva que definiu a floresta como o nosso “petróleo verde”. Os fogos florestais são uma responsabilidade de todos.
Caro Senhor, tornar crime com pena de prisão efectiva a falta de limpeza e ordenamento da floresta / mata não seria uma boa solução para os incêndios florestais? Visto que estamos perante um crime que coloca em causa vidas e bens públicos e privados...
Para mim é claro que a discussão é a mais correcta, substituindo-se a repressão que por vezes tem sentidos diametralmente opostos, que podem levar a práticas inversas do que se pretende afastar... “muitas vezes o fruto proibido é o mais apetecido”! O mais importante é fazer cumprir as leis existentes, nomeadamente a Lei de Bases do Ordenamento Florestal aprovada por unanimidade na AR em 97 e que até hoje ninguém fez respeitar. Em Portugal não falta legislação mas falta aplicação.
O que vai na cabeça dos bombeiros quando enfrentam um grande incêndio, e sabem que estão limitados nos seus meios de resposta e actuação?
Os bombeiros portugueses têm formação adequada a cada resposta no âmbito das suas operações de socorro que não só os incêndios florestais. Este apenas correspondem a 8% da sua actividade. Numa situação crítica, vêm sempre acima os conhecimentos adquiridos nas quais têm de assumir as melhores opções, de modo a atingir o êxito da operação.
Como disse o Dr. Jorge Moreira da Silva, o valor económico na área das florestas desceu milhões devido aos incêndios dos últimos dez anos.
Sendo o senhor um “ político-bombeiro” (como é apresentado num artigo DN), pergunto ao Presidente da liga dos Bombeiros de Portugal se acha que o trabalho dos bombeiros é devidamente reconhecido tanto pela população como pelo governo e pergunto ao político que mediadas têm ou não sido tomadas para combater o número de incêndios que assombram Portugal todos os anos.
As retrições ao nível financeiro existem, agora mais que nunca, em diversas áreas. Também na protecção civil e no combate aos incêndios estas limitações se fazem sentir. Como é que se consegue dirigir e articular um Liga de extrema utilidade pública, respondendo a todas as necessidades, e atendendo à conjuntura actual?
Caríssimo Dr. Jaime Marta Soares, como avalia a actuação do sistema judicial em relação aos cidadãos que comprovadamente foram responsáveis por provocar incêndios no nosso país?
O equipamento do bombeiro voluntário tem características distintas do equipamento utilizado por outras forças, como a GNR ou Força Especial de Bombeiros, claramente superior. São no entanto os voluntários que mais arriscam a vida e que estão em maior contato com o fogo. O que tem a dizer sobre este paradoxo?
Na sua tomada de posse afirmou ser necessário reduzir o excesso de despesas de modo a transferir esse montante para recursos a serem utilizados no terreno, aqueles que lutam no terreno. Quais as medidas que acha que devem ser tomadas para melhorar o trabalho dos bombeiros? E quais as despesas que acha serem excessivas ou mesmo dispensáveis?
Temos neste momento um país fortemente atacado pelos fogos florestais. Sabemos que as alterações climáticas são um factor de risco para este flagelo, no entanto, vários especialistas apontam a falta de ordenamento florestal, a falta de tutela dos municípios sobre os seus Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios, assim como, a ineficaz utilização dos fundos comunitários para a Defesa da Floresta Contra Incêndios, como factores "fragilizadores" da nossa floresta e consequentemente da nossa população.
Na sua perspetiva, como poderá o nosso governo, de forma concreta, atenuar esta situação?
Na sua opinião não acha que os elementos de comando de um corpo de Bombeiros (Voluntários, Sapadores e Privados) não deveriam ter formação superior académica (mestrado para cima) somando experiência no terreno, mais a formação que é dada na Escola Nacional de Bombeiros.
Havendo desta forma, menor capacidade de haver falhas de coordenação no TO, tal como têm havido nos últimos anos!
Perante os fogos que assolam o país ano após ano, quais acha que deveriam ser as medidas a adoptar em termos das propriedades rurais de forma a diminuir o risco de ignição e propagação dos incêndios?
Como encara, a mobilização de recursos humanos pertencentes às corporações de bombeiros, durante o ano, para acções de limpeza de matas, eventualmente assinaladas como zonas de risco?
Actualmente, e com a quantidade de fogos, o estado não deveria ter um papel mais activo na limpeza das matas (parques naturais) e na prevenção através das forças portuguesas? O que falta ser feito?
Caro Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, que medidas pensa poderem ser tomadas no sentido de minimizar as perdas associadas aos incêndios? Atravessamos uma fase extremamente sensível no que concerne a este aspecto, e muitas vidas humanas têm sido perdidas. Será que existem medidas preventivas capazes de evitar estes problemas? E se não as houver, não existirão pelo menos medidas de remédio, quando já não há forma de prevenir? Muito obrigada.
Devido ao elevado número de bombeiros que este ano perderam a vida no combate a incêndios, sente que estes estão bem preparados? Acha que os bombeiros são valorizados o suficiente?
Numa retrospectiva ao corrente período dramático, quer no cariz emocional do corpo de bombeiros, nas populações directamente ou indirectamente afectadas, face ainda ao limite do dispositivo de combate e à quantidade de hectares de floresta destruídos, que reflexão é possível realizar para prevenção de futuros combates a incêndios tendo em conta os meios disponíveis, os apoios existentes e o actual ordenamento florestal?
Acha que seria uma boa proposta convocar muitos desempregados de modo a trabalharem em conjunto com os bombeiros das suas comunidades para procederem à limpeza das matas para reforçar o ordenamento do território e a prevenir os incêndios?
Atendendo ao elevado numero de incêndios existentes em Portugal e dada a necessidade de se proceder a limpezas regulares dos inúmeros hectares da floresta existente em no país, não seria razoável admitir a obrigatoriedade da planificação e execução, a nível nacional e até mesmo a nível do poder local, de programas de minimização de risco e de treino envolvendo principalmente o cidadão comum ?
Este verão tem sido uma verdadeira luta contra os fogos em Portugal e temos perdido grandes heróis no nosso país. Acha que havia alguma maneira de melhorar a eficiência dos nossos bombeiros no combate aos fogos? Se sim, qual?
Ano após ano assistimos muitas vezes, impotentes, ao flagelo dos incêndios florestais que devastam o nosso território. Muitas vezes, assistimos também à desarticulação, devido à falta de preparação, das populações locais com os trabalhos dos bombeiros. Acha que seria uma mais valia que todos os cidadãos nacionais nacionais entre os 18 e os 45 anos tivessem obrigatoriamente uma formação teórica e prática, de como se pode ajudar a combater um incêndio florestal?
Caro Sr. Presidente, o país assiste a um cenário de avassalador de incêndios que têm arrasado a nossa floresta. Que fazer em termos de planeamento florestal? Como prevenir em vez de remediar. Obrigado e um abraço solidário a todos os bombeiros portugueses.
Estando a ser um ano bastante crítico em termos de incêncidos e, visto que o número de bombeiros que fatalmente morre ter também aumentado; qual acha que será a melhor solução para evitar, de certa fornma, a falta de preparação dos bombeiros portugueses?
Tendo em conta o panorama de destruição florestal, devido aos constantes incêndios que Portugal tem enfrentado ao longo dos já vários anos, de que forma é possível actuar, com vista à prevenção, num maior controlo e gestão florestais?
Ainda hoje sairam duas noticias onde era referido que o Estado gasta quase quatro vezes mais no combate do que na prevenção dos fogos e que Monchique tinha investido na prevenção e até esta data ainda não teriam havido incêndios. Está provado então, que, e como diz o ditado "mais vale prevenir que remediar". Então porque será que em Portugal só se lembram do flagelo dos fogos em Junho e nao durante o ano todo?
Os pequenos propietários detêm 78% da área florestal total, 12% pertencem a comunidades locais, 7% pertence a indústrias de pasta e papel e somente 3% são propriedade do Estado. Num sector onde 98,8% da propriedade florestal não é pública, no que diz respeito à gestão florestal as medidas são e continuarão a ser, implementadas pelo proprietário. Neste sentido qual entende ser o maior entrave à adopção de medidas resilientes aos incêndios por parte dos propietários?
Considera que as penalizações prevista em lei para os incendiários e para os proprietários de terrenos que não se responsabilizem pelo tratamento adequado dos mesmos, tem sido muito ténue e que deveria ser revista com alguma urgência?
Considera que o Estado deveria ter um papel mais audaz no financiamento dos bombeiros portugueses no que toca à formação dos homens e apoio à protecção dos mesmos?
Sendo bombeiro e um homem dos bombeiros, pelos quais tem disputado dedicadas lutas e, após ter sido condecorado pelo Presidente da República, Cavaco Silva no ano de 2010, com o grau de Comendador da Ordem de Mérito (pela sua entrega à causa pública), como vê as atuais condições em que os bombeiros atuam e acima de tudo o que sente em relação a isto?
Todos os anos perdemos hectares de patrimonio florestal em Portugal, algo que caracteriza a beleza do nosso país. Uma das causas dos incêndios florestais, é a falta de limpeza das matas, tanto privadas como públicas sendo que no caso das privadas os donos são sujeitos a multas avultadas.
Não acha que a falta de responsabilidade do governo e das autarquias locais nesta matéria, para além de por em causa a fauna e flora do nosso país também está a por em risco a vida dos bombeiros voluntários por negligência? Não chegou a hora de serem tomadas medidas e levar este tema mais longe e salvaguardar o que é nosso?
Não pensa que será necessária uma certa profissionalização dos bombeiros no sentido de melhorar a formação, o seu conhecimento, para existir um combate aos incêndios e outras emergências de forma mais eficiente e com menores consequências / erros?
Na sua opinião; o que deve, urgentemente, ser alterado na política nacional ou na gestão dos recursos para travar o flagelo provocado pelos incêndios florestais que ocorrem, permanentemente, desde há anos todos os verões?
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