Portugal após o 25 de Abril de 1974, apresentou sempre défices orçamentais e como era evidente, esta situação conduziu o país à actual situação financeira, pelo que é urgente reduzir os gastos públicos e sendo a esmagadora maioria das despesas públicas constituida por despesas sociais. Considera ser possível evitar o fim do estado social em Portugal?
O fim do Estado Social é um tema que tenho dificuldade em equacionar no contexto do projeto da União Europeia. E muito menos o consigo enquadrar nos ideais de um partido social democrata. Além disso, considero demagógico que se atribua à despesa pública de natureza social, a principal responsabilidade pela situação financeira quer da Europa quer de Portugal.
Em Junho de 2013 reiterou que a receita aplicada para Troika a Portugal "está errada" e os seus "resultados são desastrosos". Na sua opinião qual deveria ser a receita aplicada?
Disse e mantenho a análise em que se baseou a minha afirmação. O que foi exigido a Portugal pressupunha um ritmo no ajustamento dos principais desequilíbrios macroeconómicos que, só por milagre, conduziriam a resultados diferentes dos verificados. Não é possível explicitar neste espaço a receita a aplicar mas o desemprego, a emigração jovem, o aumento da dívida e a consolidação das contas públicas por resolver, falam por si.
Infelizmente, tem-se notado um decréscimo da receptividade nas ruas relativamente ao PSD, e até em todos os agentes políticos em geral. Tem uma experiência longa, e já foi uma das líderes do partido portanto pergunto-lhe, como entende e como se deverá motivar tanto os militantes, bem como os recentes quadros políticos e até os simpatizantes para os novos desafios actuais, e os que ai vêm?
É visível perante todos a sua saída da vida política, após a eleição que saiu com uma derrota injusta, uma vez que tinha toda a legitimidade para o cargo, porque tinha a noção da realidade efectiva do país. Sente que os Portugueses lhe devem um pedido de desculpa por ter sido séria e realista?
Ao longo dos últimos tempos tem discordado e criticado o partido publicamente. Não será mais adequado utilizado os mecanismos internos do PSD para se pronunciar sobre alguns temas sensíveis em vez de "sair para a praça pública"?
Sr.ª Dr.ª Manuela Ferreira Leite, a actual situação financeira do país exige a obrigatoriedade de consultarmos previamente o trio formado pela UE, BCE e FMI para adotarmos determinada política de natureza económica e financeira. Apesar desta limitação na acção governativa, considera que o executivo governativo deve propor uma redução da carga fiscal, nomeadamente do IRS e IRC?
Vivemos uma crise não só económica e financeira, mas também política! Como sabemos, isto é demasiado prejudicial para o país! Acha que esta crise política se deve apenas à diferença de ideais? Ou será de valores? Será que os media têm um papel potenciador desta crise? O que deve existir internamente e externamente para haver coesão?
Gostaria de saber a sua opinião sobre as políticas que têm sido implementadas pelo nosso executivo, tendo em conta os recentes resultados positivos alcançados? Posto isto, acha que esses sinais podem realmente ser realmente verdadeiros indicadores de mudanças e recuperação?
Sabendo que tem um espaço de opinião televisivo e que muitas vezes tece críticas às políticas governativas, a minha questão é: fá-lo exercendo o direito de cidadã comum, ou fá-lo como militante do PSD, com a convicção de que esse exercício de discussão pública beneficia o partido?
Em 2009 quando era líder do PSD e candidata a Primeira-Ministra, tentou alertar para a real situação do país. Muitos apelidaram-na de profeta da desgraça. Como se sentiu quando o tempo lhe deu razão e os Portugueses, tarde de mais, perceberam que afinal as suas previsões estavam corretas?
Alguma vez se sentiu discriminada por ser mulher? Se pudesse dar algum conselho a alguém como eu, que sou mulher, e que gostaria de seguir a vida política, qual seria?
Em 2009 as Europeias constituiram uma importante vitória do Partido Social Democrata ao colocar nos quadros europeus importantes e capacitadas figuras nacionais; dando ânimo e credibilidade ao Partido. Estando num ano de eleições autárquicas, cujo o resultado poderá não ser expressivo para o Partido vencedor, e olhando a que daqui por 2 anos haverá legislativas, as Europeias no próximo ano poderão ser cruciais na credibilidade dos partidos do Governo de modo a renovar a maioria?
Enquanto ex-Ministra das Finanças, considera que actualmente Portugal segue o melhor caminho, ou qual seria o melhor caminho para Portugal no fim do programa de assistência?
Como ex-Ministra das Finanças, pensa que a Europa deveria caminhar rapidamente para um modelo federalista, e assim ser mais solidária com os países que sofrem os efeitos da crise ?
Com a grave situação que vivemos hoje em dia, todos criticam as medidas do governo. Para si, serão estas medidas demasiado bruscas e fortes, seria necessário irmos devagar e com mais tempo, ou até daria maior resultado ser esta austeridade fosse mais rígida?
Até que ponto o actual sistema politico não penaliza quem fala verdade?
Não deveriam haver outros mecanismos para além do voto, ou até mesmo uma mudança na organização do poder político, de forma a penalizar políticos que falham com a sua palavra?
Durante o período em que esteve à frente do PSD, a Dra. afirmou-se como uma das vozes mais críticas do modelo de gestão - se é que assim lhe podemos chamar - do "Engenheiro" Sócrates. Muito por culpa da cultura pró-despesista que este incutiu por toda uma geração.
Ora, certamente concordará, que este governo - ainda com alguns erros - tem sido TUDO aquilo o que o pasto executivo deveria ter sido. Combatendo megalomanias. Chamando o "povo" à razão. E, acima de tudo, guiando-se pela "Política de Verdade" que a Dra. Sempre defendeu.
Apresar de tudo - e perdoe-me a franqueza - a Dra tem sido tudo menos apologista da linha de acção seguido por Pedro Passos Coelho.
Ora, se o "investimento pelo investimento" à la Sócrates não pode, de algum modo, ser solução; e se o rigor e disciplina financeira de Passos não lhe "enche as medidas" qual entende, afinal, ser o modelo a seguir para ré-colocar Portugal na rota da prosperidade? Isto, está claro , sem de alguma forma hipotecar a sanidade das nossas contas publicas...
Lembro-me perfeitamente do dia em que afirmou publicamente, perante todos, a necessidade de suspendermos a democracia em Portugal, por algum tempo. Para e citando as suas palavras, "metermos tudo na ordem!". Foram palavras muito fortes, mas ditas com grande determinação! Actualmente e á luz dos factos que assolam o nosso país, voltaria a defender publicamente essa possibilidade?
Cara Dr. Manuela Ferreira Leite, dada a sua experiência enquanto economista e política, entende ser possivel conciliar austeridade com crescimento económico?
Em 2009 os Portugueses preferiram a ilusão à verdade, o discurso fácil ao austero. A Dr. Manuela Ferreira Leite não sente que o país foi injusto para consigo? Como poderemos abolir da política os ilusionistas?
Sendo também uma fã do Neo Liberalismo económico e tendo de preparar formação jovem sobre o tema, que pontos fulcrais e obras considera essenciais para levar um primeiro contacto económico a toda a uma nova geração de militantes?
Em Portugal muito se pede para que os políticos falem verdade, contudo, quando a Dra. Manuela Ferreira Leite falou verdade e alertou para o caminho perigoso que percorriamos foi descridibilizada. O que sentiu quando passou por isso e o que mudou?
Tendo conhecimento do seu currículo na política e sabendo que já foi ministra da Educação, qual é a sua opinião relativamente ao estado do ensino em Portugal tendo em conta a altura do seu ministério e o ministério da actualidade do Dr. Nuno Crato?
No âmbito das comemorações do 873.• aniversário da freguesia da Estrela, numa sessão subordinada ao tema "O Estado da Nação. Perspetivas?" afirmou que "Teria imenso prazer em que Sócrates tivesse enfrentado a Troika". Tendo em conta a linha de responsabilização da sua afirmação, em que o autor dos problemas ver-se-ia na situação de ter que os resolver e reconhecer, qual a sua posição sobre a responsabilização criminal dos detentores de cargos públicos? Nomeadamente quando nos referimos a ex-governantes?
Considera que o facto de ter assumido uma política de, e pela, verdade nas legislativas de 2008 lhe terá custado as eleições pelos eleitores recearem essa mesma verdade?
Quando assumiu a pasta do Ministério de Estado e das Finanças em 2002, teve concerteza a noção que se estava a dar início à crise das dívidas soberanas, entre elas a de Portugal. Ficaram famosas expressões como "apertar o cinto"; e que "o país está de tanga". A semântica em volta da palavra crise não saiu mais então do vocabulário dos Portugueses. O que mudou nestes 11 anos?
Até que ponto o Fundo Monetário Internacional (FMI) meteu os pés pelas mãos na sua intervenção em Portugal e quão desastroso foi o resultado para o nosso país na sua opinião?
Várias vezes já a ouvimos criticar algumas opções deste governo. A minha pergunta é simples: a um ano do final do programa de ajustamento, e já com alguns resultados conhecidos, acredita no sucesso do ajustamento português e na melhoria, em suma, do país?
Enquanto ex-Ministra das Finanças qual é, para si, a melhor forma de gerir o activo importante, para este país, que são os jovens de forma a melhor rentabilizarmos os cérebros que produzimos?
Como avaliou e se sentiu e o que sente agora a recordar as legislativas de 2009, a vitoria da demagogia sobre a responsabilidade, o espectaculo sobre o realismo?